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Tema: Poder público e seus desafios na oncologia

 Organizador: Movimento TJCC

Nesta discussão, foram abordados os maiores desafios da Oncologia no Brasil, por exemplo, como garantir o cumprimento eficaz das diretrizes já estabelecidas, pela visão do Ministério da Saúde, parlamentares e membros do Conselho Nacional de Saúde.

Silvia Cristina, deputada federal por Roraima e coordenadora da Frente Parlamentar mista em Prol da Luta Contra o Câncer, ressaltou o papel das emendas parlamentares na ajuda tanto na prevenção, quanto na detecção precoce e tratamento do câncer.

“As emendas parlamentares ajudam e muito. Nem sempre o Ministério da Saúde consegue detectar, lá na base, aquilo que é necessário acontecer para a melhoria. Eles recebem nossas questões, fazem várias ações. Mas, as emendas parlamentares acrescentam nas ações do ministério. Inclusive, há poucos dias estava conversando com o ministro e ficou ainda mais claro para mim que elas agregam e muito”, declarou.

A deputada também comentou sobre os avanços já conquistados, como as Leis dos 30 e 60 dias, mas que mesmo com essas conquistas, na prática, as demandas não estão funcionando como havia sido previsto e aprovado na câmara.

“Precisamos avançar, porque a pandemia fez com que muitas pessoas se afastassem. Mas precisamos seguir!  (…) E nós temos que trabalhar junto com o executivo. Quando fazemos uma boa lição de prevenção e diagnóstico, sabemos que o tratamento será mais barato, mais rápido e menos dolorido. ”

Eduardo Fróes, membro do Conselho Nacional de Saúde e integrante de Advocacy e Políticas Públicas da Abrale e do Movimento TJCC, elencou alguns dos principais desafios para a Oncologia.

“São vários e, dentre eles, está a questão da pesquisa clínica, com o Projeto de Lei que está tramitando no Congresso Nacional desde 2015, para que os estudos possam ser aplicados nos seres humanos”, disse.

Maria Inez Gadelha, médica em Oncologia Clínica e chefe de  Chefe de Gabinete do Departamento de Atenção Especializada da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, esclareceu como são os serviços em Oncologia do ponto de vista do Ministério da Saúde.

“É muito importante o porte tecnológico para o seu diagnóstico diferencial, mas na verdade temos que afastar que não sejam outras doenças, e é necessário o envolvimento de todo o sistema de saúde. (…) A atualização é contínua porque, na medida que se resolve uma questão, outra aparece. Então, não podemos resumir a terapia à inovação e devemos lembrar que temos que alcançar resultados virtuosos em cada modalidade. ”

A Chefe de Gabinete também falou sobre os obstáculos para o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e como ela acredita que o financiamento deveria ser.

“Pegar todo esse dinheiro que é pulverizado e fazer uma grande revolução no financiamento do SUS (…). Então, a população, a grosso modo, só vê o dinheiro do Ministério da Saúde. Normalmente, nós não sabemos o quanto e em que os estados e municípios aplicam na Saúde. O que fica disponível são os recursos tabelados, a famosa tabela do SUS. Muito se ouve que o SUS não paga, mas nunca se discute a necessidade de mostrar o financiamento tripartite. ”

O painel foi moderado pelo Herodoto Barbeiro, Jornalista do R7, Record News e da Nova Brasil FM.

Tema: Mudanças já! Os melhores rumos para a Oncologia

Organizador: Movimento TJCC

A pandemia trouxe ao país uma profunda crise na área da saúde e fez emergir a necessidade de construir soluções em rede. 

Para o Dr. Carmino Souza, onco-hematologista e representante do Conselho de Secretários Municipais de Saúde, a Oncologia é o maior problema de saúde pública a ser enfrentado no Brasil. 

“O câncer é a questão de saúde mais relevante e temida em todos os países, inclusive nos desenvolvidos. Atualmente, os principais desafios na linha de cuidado de Oncologia no CONASEMS é a precariedade do acesso aos serviços, por falta de diagnóstico disponível e facilitado; alta concentração de tratamento quimioterápicos em detrimento de cirurgico; déficit financeiro nos tetos da gestão municipal; descolamento a longas distâncias de pacientes residentes em áreas descobertas; revisão administrativa da portaria 140; aumento da quantidade de casos de câncer sem reposição dos recursos financeiros; envelhecimento das pessoas. Não existe um ‘Plano Brasil’ para enfrentamento da doença”, ressaltou.

Como propostas, o Dr. Cármino comentou que é essencial organizar a rede de Oncologia para hierarquizar o sistema e os pontos de atenção, ou seja, colocar cada serviço em seu devido lugar e garantir que haja uma complementaridade neles.

“Na minha visão, o que nós precisamos é criar instalações avançadas de diagnóstico e tratamento do câncer. É preciso fazer um plano nacional e distribuir esses centros integrados. Também temos que fazer um projeto de longo prazo, criando centros integrados; reconhecer e financiar as redes de Oncologia em todos os estados da federação; investir na formação contínua. O SUS tem só 30 anos, mas avançou muito”. 

Para o Dr. Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e professor de mestrado da FGV, é preciso expandir a atenção básica no país.

“Não existe complexidade que não possa ser resolvida no seu tempo. 62% da população brasileira tem acesso à saúde da família, mas temos que aumentar isso para 80%. Não dá para discutir a assistência no secundário e terciário, na visão do município. É preciso discutir a partir de manchas populacionais que precisam ser construídas e isso será muito difícil, porque os prefeitos e governadores terão que se entender fora do seu partido político. Estamos em um desastre sanitário e econômico e eu não contaria com novos recursos nos próximos 4 ou 5 anos. Então o que podemos fazer é melhorar o que já temos. O momento é de repensar o financiamento”. 

O aumento da expectativa de vida foi destacado pelo Dr. Ismael Alexandrino, secretário de Estado de Saúde de Goiás. 

“Temos a evidente percepção que, com o aumento da expectativa de vida, tende a aumentar o enfrentamento do câncer. Precisamos de algo estruturado, que reúna as atribuições da atenção primária, secundária e terciária. Percebemos a falta de uma política efetiva e sempre se discute, no âmbito do CONASS, o subfinanciamento. É fundamental que tenhamos um papel claro da atenção primária no atendimento do câncer. A prova disso é que os diagnósticos são feitos muito tardiamente e os tratamentos acontecem em estadiamentos avançados, gerando um maior custo e diminuição das chances de cura. A política de atenção secundária deve acontecer de forma clara também, e de forma regionalizada”, comentou. 

Dr. Nelson Hamerschlak, coordenador da Onco-Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein, falou sobre o papel das sociedades médicas no enfrentamento do câncer. 

“A primeira coisa que temos que basear são as questões de organização, tanto do papel dos médicos, como também no sentido de escalonar a diferença do que temos acesso ao atendimento básico. Então, nós temos trabalhado sempre provocando as melhores formas de diagnóstico e tratamento possíveis. Sabemos que no nosso país há uma desigualdade enorme. Por isso, seria importante termos uma maior articulação entre todos que lidam com a área de saúde, seja ela pública ou privada. O próprio Movimento TJCC é uma tentativa feliz e temos conseguido determinadas metas por meio dessa articulação. É necessário todos os players ligados à saúde sentarem para conversar sobre o preço dos medicamentos, sobre as drogas com custo barato que são retiradas do mercado. As sociedades de especialidades devem se alinhar às melhores práticas em defesa da melhor qualidade do tratamento dos pacientes”. 

Eliane Maria Ribeiro Dourado, assessora técnica do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, também defende a existência das redes de atenção.

“Finalmente, nos tempos de hoje, conseguimos falar sobre câncer sem preconceito. Acho que, até então, se tinha um estigma e se pensava em câncer mais em relação à morte. É impossível pensarmos em centralizar a atenção do câncer em um único local. Mas para condições crônicas é preciso instituir a questão de redes de atenção”, finalizou. 

Tema: Financiamento de Oncologia no SUS Soluções em Curso

Organizador: Janssen

O financiamento em saúde é sempre pauta quando o tema é Oncologia. Com os impactos da COVID-19 na economia nacional e mundial, os desafios ficaram ainda mais evidentes no país. 

Para Sandro Martins, pesquisador no Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz/DF, a chave é a sustentabilidade das redes de atenção. 

“Além de precisarmos de mais recursos públicos, é importante que haja eficiência do uso das condições escassas que temos no nosso país”, reforçou. 

Antonio Dino Tavares, vice-presidente da Fundação Antonio Jorge Dino, destacou a questão do Fundo Estadual de Combate ao Câncer. 

“Em 2011, foi proposto este projeto de lei, regulamentado em 2014 e que começou a funcionar mesmo no final de 2017. Isso porque precisou ser criado um código de receita e regulamentar como seriam feitas as transferências dos 5% do ICMS arrecadado com a venda de cigarro e dos 3% arrecadados com a venda de bebidas. Mas, apesar de existir este Fundo Estadual, o dinheiro não estava sendo repassado corretamente e esse ano nós conseguimos mudar isso, e também trouxemos como inovação a prorrogação para 2030. A criação deste projeto aconteceu em um momento muito importante, e é uma grande vitória para o combate ao câncer”, comentou. 

Já Antonio Luis Cesarino de Moraes Navarro, presidente do Conselho de Administração da Casa Ronald Jahu, colocou em pauta as formas de financiamento do SUS para os Hospitais Filantrópicos Privados.

“Nós  temos as emendas parlamentares federais e estaduais. Temos também, por exemplo, os títulos de capitalização, que são uma fonte de recursos importante. Hoje, há uma distorção completa sobre o tema e eu acho que elas precisam ser eliminadas. Os hospitais filantrópicos precisam lutar para que haja uma distribuição de renda adequada e também precisam ser cobrados pela qualidade do serviço”, falou. 

A cadeia oncológica no Brasil sofre um problema de acesso, desde condições de saneamento e estrutura, até questões de diagnóstico. 

“Nós temos todo o problema da atenção básica precária, e pluralidade dentro do país que estabelece regiões com incidências e formas diferentes. O ciclo de informação também fica equivocado e isso gera sempre um atraso no desenvolvimento das políticas e acaba comprometendo o setor secundário e terciário, em relação à resolubilidade. O financiamento fica obsoleto por conta do desconhecimento das reais necessidades. Temos um sistema de precificação padronizado, sem reajuste,  e isso acaba fazendo com que o custo seja maior e o financiamento seja menor também. Com a curva de envelhecimento da população e todas as condições de pagamento o sistema vai ficar insustentável e nós dependemos dessa simbiose. Esse ecossistema tem que ser repensado para gerar melhor efetividade”, finalizou Marcio Leão, diretor executivo no Grupo Delfin Saúde. 

Tema: O match do bem – Captando recursos para transformar a Oncologia

Organizador: Abrale

O Brasil enfrenta uma grande crise econômica e financeira, por isso é preciso desenvolver estratégias para captar recursos, com o objetivo de ampliar o tratamento oncológico e também promover a sustentabilidade das organizações sociais. 

Fabio Fedozzi, diretor executivo da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, abordou o financiamento por meio do incentivo fiscal.

“As associações de apoio ao paciente podem captar pelo PRONON, por exemplo.  Então o governo renuncia uma parte do imposto recebido, e as pessoas físicas e jurídicas podem também doar uma parte dos impostos pagos. Esse processo ajuda, e muito, a conseguirmos colocar nossos projetos em prática”, salientou. 

Tammy Allersdorfer, superintendente de Desenvolvimento Institucional do GRAAC contou um pouco da experiência deles na captação de recursos. 

“Temos duas fontes de receitas. A não hospitalar é aquela que completa o que a receita hospitalar não consegue cobrir. Já a hospitalar é o valor recebido a partir dos serviços do nosso hospital. Ter uma grande diversidade de fontes de recursos é um importante caminho. Nós conseguimos captação diversas e temos percentuais bem distribuídos, mas a maior parte vem de um grupo que funciona desde 1997, que são os mantenedores pessoas físicas. Hoje, nosso principal desafio é manter essas pessoas ativas. Nada é fácil em captação. Por isso, temos que continuar inovando”, explicou.

E você sabia que a área da arte e cultura também podem ajudar os serviços de saúde? Foi o que trouxe  João Francisco de Carvalho Pinto Santos, fundador do INDES. 

“As pessoas ainda têm uma visão que a arte é muito mais uma diversão, e na verdade a arte, hoje, tem múltiplas dimensões e linguagens e tem sido utilizada pelas organizações e empresas para projetos que tem uma capacidade de gerar uma transformação muito grande nas pessoas e nos contextos de vida. A própria ciência já reconhece o quanto o sócio-emocional interfere na recuperação, na qualidade de vida. Então a arte é um veículo para que o paciente encontre uma forma de ter um novo olhar sobre ele mesmo, sobre a relação dele com a situação e com o mundo. As leis de incentivo de cultura também podem ajudar projetos ligados à saúde”, finalizou.

Tema: Advocacy: caminhos para o fortalecimento e a implementação das políticas públicas

Organizador: Global CCA

Os pacientes com câncer enfrentam diversos problemas que poderiam ser solucionados pelo poder público. Para dialogar com os tomadores de decisão, existe o advocacy, uma estratégia para defender direitos e influenciar a formulação de políticas públicas. Neste painel, nossos especialistas irão debater a importância de aumentar a conscientização sobre o câncer, financiar pesquisas, apoiar pacientes e cuidadores e realizar ações junto ao poder público em prol dos pacientes.

Segundo Daniel Hissa, especialista em políticas públicas e sócio da PATRI, o processo demanda participação de todos da sociedade civil, com transparência,  ética e informação qualificada e confiável.

“É preciso ter um pensamento crítico sobre o tema que está sendo discutido: por que? Por quem? O advocacy serve também para legitimar os interesses. E por isso é importante entender quem está sob seu controle. Qualquer ação de advocacy precisa ter um plano estruturado, sabendo onde teremos que emendar esforços neste debate. A primeira coisa que a prática ensina é que o ambiente que estamos inseridos é maior que a sala em que ficamos. As questões são muito maiores e mais amplas do que as discussões que fazemos. É preciso saber se comunicar com as pessoas. E comunicação é prática. Sabemos que as atividades de advocacy foram bastante prejudicadas por conta da COVID-19. Antes fazíamos muitos eventos, trocávamos muitas ideias olhando no olho. Por um lado foi bom, porque nossas agendas ficaram mais disponíveis. Mas a energia presencial é sempre muito importante”, falou. 

Andrew Spiegel, diretor executivo da Global Colon Cancer Association, destacou o trabalho realizado por eles.

“Estamos prestes a completar 10 anos. Lutamos pelos pacientes de diversos tipos de câncer de todo o mundo, em especial para aqueles que têm câncer colorretal. Os biomarcadores são muito importantes e é preciso falarmos sobre isso, além dos medicamentos biossimilares, que garantem excelentes resultados”.

Nicole Sheahan, presidente da Global CCA, apresentou o kit de ferramentas criado para os pacientes defensores. 

“Os membros de nossa organização representam 33 países. E estamos à disposição para quem mais necessitar. O tool kit pode ser um importante guia para quem está pensando em abrir uma organização. É importante sempre, antes de abrir uma nova organização, entender se já não há alguém fazendo este trabalho, para que os laços sejam fortalecidos. Os defensores dos pacientes têm o poder de mudar o futuro do câncer colorretal, aumentando os esforços de prevenção e acesso ao tratamento, salvando vidas. Planejamento também é essencial para que as organizações possam seguir com seu trabalho, sem enfrentar grandes dificuldades. Procure por profissionais especializados para as diferentes áreas de atendimento de sua associação. Uma dica para manter a estabilidade financeira são os vários fluxos de receita. Pode ser arriscado contar com apenas um doador ou um único tipo de arrecadação de fundos. Diferentes tipos de parcerias incluem organizações de pacientes; associação de profissionais de saúde; organizações governamentais; indústrias farmacêuticas e hospitais”, enfatizou. 

Para Sandro Martins, pesquisador no núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde na Fiocruz/DF, uma sociedade bem informada, com certeza fará melhores escolhas.

“O denominador comum entre as ações de advocacy em Oncologia e pesquisadores dessa área é a diminuição da carga sanitária que o câncer assume na sociedade brasileira. Nós vimos com muito otimismo o maior uso digital para a comunicação, mas nos últimos anos percebemos que as emoções, termos pessoais e opiniões acabaram desafiando os fatos. Epidemiologia é um termo científico, mas que se popularizou por conta da pandemia. E essa assimetria de conhecimento para termos técnicos, foi um ambiente fértil para vermos o ‘Twitter medical jornal’ disseminando inverdades, por diversas razões”, lembrou. 

Marília Albiero, da ACT, também entende que não há transformação sem um grande movimento civil. 

“A ACT nasce com a vontade de fazer advocacy, porque é por meio dessa atividade que faremos as políticas públicas, responsáveis pela melhoria de problemas diversos de nossa sociedade. A sociedade se mobilizou para a libertação dos escravos, para os momentos femininos. A democracia pode e deve ser exercida muito além do voto. É preciso evitar retrocessos. Ainda precisamos debater sobre muitos desafios, dentre eles o tabagismo. A comunicação é um outro desafio. Estamos perdendo a sabedoria em nos comunicar. É preciso saber o que comunicar, a influência de quem comunica. O olhar mais atento pode filtrar notícias falsas, excesso de informações”. 

O câncer já é a principal causa de morte em 10% dos municípios e também em 2029 será a principal causa de morte em todo o Brasil. 

“Por isso, precisamos unir esforços para aprimorar a atenção oncológica. Foi pensando nisso que a Abrale criou o Movimento Todos Juntos Contra o Câncer e hoje somos mais de 200 organizações que trabalham em conjunto para a prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e promoção da saúde. Com a pandemia, tivemos uma piora no acesso ao diagnóstico e tratamento. Criamos uma carta para o governo, que foi assinada por mais de 200 organizações da sociedade civil, além de duas frentes parlamentares. Esta carta foi enviada ao presidente da república e a outros órgãos, como a OMS”, pontuou Nayara Landim, relações institucionais e governamentais do Movimento TJCC. 

De acordo com Regina Próspero, presidente do Instituto Vidas Raras, o caminho é não escolher quem são os privilegiados. 

“Muita gente sabe o que é câncer, e se solidariza. Mas quando falamos sobre outro rol de doenças, as coisas mudam e ficam mais difíceis. Sempre procurei levar o lado da humanização ao servidor, e mostrar para ele que a pessoa que está pedindo e precisando daquele medicamento, muitas vezes está desesperada. Mas hoje me vejo na posição de, muitas vezes, falar não. Porque aquilo que não é necessário, quando dispensado, prejudica quem realmente precisa. Hoje, tenho que olhar o que é urgente, e aquilo que não é. Um processo de compra é muito burocrático, assim como montar um centro de tratamento”.

Patricia Chueire, coordenadora do projeto Cuida APS, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, finalizou dizendo que “não tem como fazer advocay apenas para um medicamento. É importante que as estratégias se somem, pensando no sistema de saúde como um todo. Entendo que precisamos defender o SUS de forma mais ampla, e não focar em políticas focadas em determinados medicamentos”.  

Tema: (Des)caminhos do tratamento oncológico na Saúde Suplementar

Organizador: Movimento TJCC

Mais de 47,6 milhões de brasileiros são usuários da saúde suplementar. Apesar da cobertura privada, muitos pacientes oncológicos sentem-se desamparados quando mais precisam. 

A Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) desenvolveu uma pesquisa para ouvir relatos de pacientes beneficiários de planos de saúde, visando entender as barreiras de acesso ao tratamento, testes genéticos e outros exames de acompanhamento da doença. 

“Foi realizado um grupo focal com cinco pacientes, que relataram problemas com o tratamento oncológico em 2020. A maioria deles relatou dificuldade para o diagnóstico, por meio do seu plano de saúde. Inclusive, dois dos participantes disseram precisar recorrer ao SUS para conseguir chegar ao diagnóstico correto. A maioria também disse ter enfrentado dificuldade no acesso ao tratamento, via plano de saúde. Muitos dos exames, ainda que cobertos, eram negados.  E tudo isso, claro, causa um importante desgaste nos pacientes, que já estão enfrentando um momento muito delicado. É preciso mudar”, apresentou Tiago Cepas, sanitarista e especialista em Gestão de Saúde. 

Há 23 anos a saúde suplementar é regulamentada pela Lei nº 0.656, que estabelece regras aos planos de saúde, contribuindo para a organização do setor e assegurando aos beneficiários garantias e direitos. 

“Hoje, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tem como olhar central a atenção à saúde dos beneficiários. Para isso, tem por papel garantir a indução de práticas e modelos assistenciais capazes de promover a saúde e prevenir riscos e doenças; mediação com a construção de diálogos entre os atores do setor para a adoção de boas práticas; regulamentação do setor e a sustentabilidade do mercado. Em 2018, criamos o Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde, e temos em curso a certificação em atenção oncológica. Essa é uma participação voluntária”, comentou Kátia Curci, técnica em assuntos educacionais da ANS.  

A implantação deste novo modelo de cuidado a pacientes oncológicos beneficiários de planos privados de saúde tem como foco o cuidado integral. O objetivo é aprimorar a prestação de serviços de atenção oncológica no país, propondo um conjunto de ações integradas, capazes de reorganizar, estimular a integração, responsividade e qualidade do sistema. 

“A dimensão da certificação tem uma parte importante, que é o planejamento e a estruturação. E a operadora irá se estruturar, para garantir que terá um serviço completo e de qualidade, e assim ganhar sua certificação. E embora falemos muito sobre o tratamento do câncer, também precisamos falar em prevenção. Hoje vemos a obesidade galopante, os adolescentes fumando, as pessoas com hábitos de vida não saudáveis. E precisamos voltar a trabalhar estes pontos”, salientou Katia.  

Para o Dr. Breno Gusmão, hematologista na BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, de fato os pacientes ficam perdidos no meio desse sistema. 

“Eles precisam do nosso apoio, essa linha do cuidado integral é essencial. Estou contente de participar do projeto da ANS, nesse cenário das novas diretrizes de selo de qualidade, porque isso é muito importante para nós médicos entendermos as operadoras, e elas nos entenderem. Afinal, ficamos no meio de tudo isso. Um sonho de consumo é ter um prontuário único e unificado. Mas não é fácil! A telemedicina também chegou para ficar. A pandemia mostrou sua importância e facilitou o atendimento entre médico e paciente, assim como médico para médico. Com isso, conseguimos ajudar colegas de outras regiões, com relação ao câncer, e podemos ajudar o  sistema de saúde. E, mais uma vez, para um bom atendimento de telemedicina vamos precisar do prontuário eletrônico”. 

Denise Martins, farmacêutica e familiar de paciente com mieloma múltiplo, contou sua experiência. 

“Minha mãe tinha dois convênios, de modelos de gestão distintos, então tivemos muita dificuldade de acesso. Temos médicos na família, que tentaram agilizar os exames, mas não conseguimos. Para fazer um simples hemograma, demorou uns 3 dias. E no convênio que tínhamos aqui em SP, com muito esforço nosso, e com meu conhecimento na saúde, as coisas foram agilizadas e o diagnóstico, não muito conclusivo, aconteceu em 27 dias. Tem muita coisa para melhorar. O laboratório nunca consegue entregar para o dia seguinte. Sempre precisamos esperar 2 semanas, 3 semanas. E o OS é um castigo para o paciente oncológico. Se você não está em um hospital especializado, o paciente fica ali horas para ser atendido. Isso dentro de uma operadora, em SP, com pessoas experientes na área. E nem com muito esclarecimento conseguimos superar as barreiras”. 

Para Frederico Borges, superintendente da ABRAMGE, as mudanças de lá para cá, na percepção do olhar centrado no paciente, são enormes.

“Hoje temos a possibilidade de ter um olhar de coordenação do cuidado, e até podemos unir as atividades de saúde pública, com a privada. Precisamos falar sobre a lei de proteção de dados, que tem uma expressão na área de saúde muito importante, porque ela beneficia o usuário. Em relação à adesão à certificação, eu diria que o mercado é quem regulamenta isso. Quando começarmos a colocar um selinho, as empresas virão. Estamos em um momento de experiência, mas está na hora de começarmos a executar. A pandemia trouxe um momento novo, e mostrou que precisamos agir mais rápido, e acredito que isso irá influenciar no órgão regulador. A discussão é ampla. Nós, da ABRAMGE, fizemos diversos cursos, lives, focados nos profissionais. Estamos tentando participar deste debate e nossa função é promover o acesso”, finalizou.  

Como o Cancer Center contribui para a evolução da Oncologia do Brasil

Um centro oncológico organizado tende a trazer resultados melhores aos usuários. O paciente não pode ser visto em degraus, de acordo com o Dr. Wilson Leite Pedreira Jr., diretor de negócios e relacionamentos do A.C.Camargo Cancer Center. 

“Quem faz o planejamento das condutas não pode ser um único especialista, tem que ser um conhecimento em conjunto. Outro ponto importante é que em Medicina nós precisamos avançar em resultado e, para isso, também precisamos de transparência dos índices de resultado”, falou. 

Um cancer center é um ambiente que reúne todos os recursos que um paciente pode precisar. 

“Atendendo todo dia, entendemos quais dúvidas o paciente tem e podemos colocar os profissionais à disposição para solucionar as questões e necessidades. É um ambiente de alta especialização e alto volume e isso faz com que apareçam muitos casos complexos e raros, e isso acaba atraindo um certo tipo de profissionais que gostam de desafios e trabalham no conhecimento”, pontuou Dr. Victor Piana de Andrade, diretor geral do A.C.Camargo Cancer Center. 

Os centros especializados também são essenciais para que o tratamento aplicado seja correto e no tempo adequado. 

“Por um lado há uma doença que é altamente complexa para tratar, e por outro, o tempo é fundamental. Cada dia que o paciente tem seu tratamento atrasado, ele diminui a chance de cura. Ser tratado em um ambiente fragmentado é crucial para o paciente que tenha qualquer doença complexa. É preciso buscar centros especializados e com todas as estruturas que se necessita, especialmente em um país como o Brasil que tem tamanho continental”, comentou o Dr. Genival Barbosa De Carvalho, gerente médico do A.C.Camargo Cancer Center. 

Centros especializados também podem oferecer serviços de pesquisas clínicas. E este também é algo positivo não só para o paciente, no sentido individual, mas também no macro. Afinal, é por meio das pesquisas clínicas que novos tratamentos são desenvolvidos, possibilitando a cura de diversos tipos de neoplasias. 

“Uma vez que o cancer center atende diferentes tipos de câncer, também pode oferecer respostas para pesquisas”, finalizou Maria Paula Curado, do Centro Internacional de Pesquisa do A.C.Camargo. 

Tema: Sistemas mais sustentáveis, resilientes e personalizados

Organizador: City Cancer e Femama

O City Cancer Challenge tem o objetivo de fortalecer sistemas de saúde locais a partir da integração de diferentes atores sociais envolvidos na cidade.

“A América Latina tem, pela frente, um caminho para reimaginar os sistemas de saúde para que eles sejam sustentáveis, resilientes e personalizados, mesmo após a pandemia da COVID-19. É preciso identificar como continuar a levantar dados para desenvolver esses sistemas de saúde”, pontuou Ana Paula Dixon, Jornalista com Mestrado em Comunicação Social e especialização em Ciência Política e Relações Internacionais e mediadora do painel. 

Maria Clara Horsburgh, médica com residência em Oncologia e Diretora Médica da Roche para a América Central e o Caribe, desmistificou algumas crenças relacionadas à medicina personalizada, especialmente que ela é cara e, por isso, não é possível tê-la nos países não desenvolvidos. 

“Hoje, a convergência de dados e tecnologias, permite que o investimento aconteça de forma mais eficiente, sustentável e resiliente. Dessa forma, evitando que o paciente perca tempo e o sistema perca dinheiro. Uma maior certeza de qual medicamento terá mais efeito em cada paciente, evita gastar em tratamentos que não terão resultado”, esclareceu.

Ela também informou que essa não é uma tecnologia do futuro, mas sim que já está presente atualmente no Brasil. 

“Temos bases muito sólidas, há motivos para celebrar, mas não podemos ficar de braços cruzados, pois foram identificados diversos pontos que devem ser trabalhados. Por exemplo, educação digital, colaborações público privado, rastreio genético, uso de tecnologia, aumentar o número de profissionais e cobertura de saúde”, ressaltou. 

Boggi Eliasen, formado em Ciência Política e Direito Internacional e diretor de Saúde do Copenhagen Institute for Futures Studies, falou que a maioria dos sistemas de saúde sofrem com os mesmos problemas. Por exemplo, o aumento da carga de doenças por conta da maior longevidade da população.

“Nós vivemos durante mais tempo e a carga de doenças aumenta, cada pessoa tem mais anos de doença, o sistema é centrado em doença em saúde. (…) Se a intervenção é realizada cedo, o gasto de saúde é menor. Devemos intervir mais cedo, seja com prevenção ou intervenção precoce”, disse.

Tendo como base uma análise sobre os Cuidados de Saúde no Brasil ele considerou que o acesso dos pacientes brasileiros aos dados é muito bom, mas a infraestrutura para utilizar esses dados não é boa. Além disso, o orçamento para pesquisa e desenvolvimento é alto, bem como a quantidade de pesquisas, mas a equidade é muito baixa.

“A saúde personalizada é um ferramenta para construir um sistema de saúde sustentável, tendo dados e evidências será possível encontrar um caminho de saúde personalizada”, Eliasen afirmou.

Aprofundando na medicina personalizada, Gilberto Amorin, médico com residência em Oncologia Clínica e membro titular da SBOC e da ASCO, salientou que os testes genéticos não são baratos, mas a evolução que eles geram é impressionante e, potencialmente, tornam os tratamentos menos custosos e mais efetivos. 

“Painéis moleculares sofisticados em pacientes com câncer de mama recém-operadas mostram para a gente exatamente qual o risco de recidiva e dizem se precisa administrar quimioterapia. Está claro que não são todas, ele consegue reduzir em 60-70% a quantidade de mulheres que têm necessidade de fazer quimioterapia. (…)  A medicina personalizada vem para diminuir o empirismo no tratamento”, Amorin comentou.

Ele ainda complementou que a medicina personalizada é quase uma filosofia de tratamento na qual não se pode olhar para dois pacientes com, por exemplo, tumor de pulmão e achar que as doenças são iguais. 

“É aquela coisa de realmente cada  caso é um caso”, reforçou.

Maira Caleffi, médica mastologista, fundadora e presidente da FEMAMA e anfitriã do painel, descreveu que os sistemas não atendem as necessidades das pessoas, são insustentáveis e possuem um custo que aumenta progressivamente.

“Então, a gente enxerga uma desigualdade na distribuição dos serviços de saúde. (…) As cidades têm um papel fundamental, porque são elas que estão próximas dos cidadãos”, pontuou.

Ela ainda considerou que os sistemas precisam de uma transformação com melhora na infraestrutura, dados de qualidade, decisões baseadas em dados de pacientes reais e treinamento permanente de profissionais de saúde.

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