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Tema: Dor Oncológica

Organizador: Abrale

Nesta primeira parte do VIII Simpósio de Reabilitação Oncológica três profissionais da Fisioterapia apresentaram maneiras de lidar com a dor durante o tratamento contra o câncer.

A primeira, Adriana Schapochnik, Graduada em Fisioterapia Centro Universitário São Camilo e mestre e doutoranda em Biofotônica Aplicada às Ciências da Saúde, falou sobre a fotobiomodulação e seu efeito analgésico.

“Modular não significa só estimular e corrigir, ela pode inibir também, eu posso trazer uma cicatrização ou diminuir a dor. (…) É um recurso não do futuro, mas do presente, ele entra na qualidade de uma medicação porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) determina que medicação é qualquer recurso terapêutico”, disse.

Ela também explicou que essa é uma terapia que é feita de modo local, mas que trabalha de forma sistêmica, estimulando ou inibindo diferentes partes para a analgesia do paciente. 

Em seguida, Artur Padão, doutorando em Neurociências e Cognição e mestre em Ciências/Clínica Médica, palestrou sobre a eletroestimulação transcraniana para tratamento da dor crônica, um recurso  que não é tão recente mas está ganhando espaço na fisioterapia.

“É um procedimento que tem como alvo o Sistema Nervoso Central para modular a atividade neuronal, aumentando ou diminuindo essa ativação com a eletroestimulação transcraniana. (…) Colocamos dois eletrodos na cabeça do paciente, um que é o excitatório e o outro que é o inibitório, o primeiro é para aumentar a atividade neuronal e o segundo para reduzir a atividade. A corrente elétrica vai passar do eletrodo excitatório para o inibitório, então a gente vai produzir a excitação em uma área e a inibição em outra para produzir o efeito clínico desejado”, informou.

Ele ainda ressaltou que essa técnica possibilita diversos tipos de montagem e possui menos efeitos adversos que muitos tratamentos orais para a dor. Artur também falou sobre as contraindicações e passou algumas recomendações gerais de uso.

Por último, Angela Wicker-Ramos, Fisioterapeuta oncológica e diretora de reabilitação, proprietária e fundadora do CRIM, abordou o tema do efeito dos exercícios físicos na dor e capacidade funcional de pacientes com câncer.

“Qualquer pouca prática de exercício que o paciente realize pode ajudar. Precisamos ajudar os pacientes a entenderem que no momento que ele começar a realizar qualquer pouca prática de exercícios, já ajudará na sua qualidade de vida. Então, ele pode começar aos poucos, indo do sedentarismo para dez minutos de atividade, achando um exercício que ele goste, para torná-lo mais ativo”, orientou.

Ela detalhou os benefícios que cada tipo de atividade física, como alongamento, fortalecimento e exercícios de estabilidade, podem gerar e esclareceu quais modalidades são melhores para cada momento.

“Os melhores são resistência e aeróbico (…) é um momento no qual eles focam no seu corpo e sua saúde e é um jeito saudável de lidar com a ansiedade e depressão. (…) Apesar de não ser propriamente um tipo de exercício, a meditação tem se mostrado uma importante atividade para acalmar os pensamentos”, pontuou.

O painel foi moderado pela Carla Lopes, repórter, apresentadora e editora de texto com 27 anos de experiência em televisão.

Tema: Simpósio de Nutrição: Terapia nutricional na qualidade de vida e na sobrevida dos pacientes oncológicos

Organizador: Abrale

No V Workshop de nutrição e câncer, oito profissionais fizeram apresentações sobre terapia nutricional na qualidade de vida e sobrevida dos pacientes oncológicos, debatendo temas como: fitoterápicos; polivitamínicos; suplementação nutricional; alimentação como fator de risco; consumo do açúcar no desenvolvimento do câncer e dieta cetogênica. 

Jéssica Reis, nutricionista oncológica e mestre em Ciências, trouxe parâmetros de até onde o nutricionista pode e deve ir na indicação de suplementos alimentares para os pacientes. 

Ela iniciou sua palestra indicando que cerca de 80% das pessoas com câncer já apresentavam desnutrição no momento do diagnóstico e de 10% a 20% desses pacientes acabam indo a óbito por conta do quadro de desnutrição

“Devemos estar ligado a quais são as resoluções vigentes atualmente, como a prescrição de suplementos pelo nutricionista do CFN, que autoriza a indicação de, por exemplo, nutrientes, substâncias bioativas, enzimas, produtos apícolas, alimentos com alegações de propriedades funcionais e de saúde e medicamentos isentos de prescrição médica à base de vitaminas, minerais, aminoácidos e/ou proteínas. ” 

Jéssica também indicou acompanhar alguns dos guidelines atuais, como do INCA, e contar com dados validados cientificamente.  

Olívia Podesta, nutricionista oncológica, mestre em políticas públicas e desenvolvimento local e doutora em Ciências na Área de Oncologia,  exibiu dados e passou orientações relacionadas à alimentação como fator de risco e de proteção no câncer de cabeça e pescoço.

“Se o indivíduo tem o hábito de beber e fumar, tem até 75% de chances de desenvolver esse tipo de câncer. A má higiene oral e dieta pobre em nutrientes e inflamatória também são fatores de risco. (…) A gente tem diversos artigos sobre a dieta inflamatória que trazem esses padrões alimentares com alto consumo de fritura, alimentos ultraprocessados e carnes processadas estando ligadas com o desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço. Por outro lado, tem muitos outros associando a prevenção do câncer de boca e o consumo de alimentos minimamente processados. ”

Gisele Vieira, Nutricionista Oncológica, Especialista em Fitoterapia, Terapia Nutricional e Cuidados Paliativos, abordou a questão dos fitoterápicos, quais os passos para prescrevê-los e a possível interação medicamentosa que eles podem ter com os medicamentos oncológicos. 

“Primeiro, temos que avaliar o fitoterápico em si, segundo, avaliar o tratamento oncológico, terceiro, analisar o uso e por último, avaliar quais são os riscos e benefícios. Isso deve ser feito em equipe, o paciente vai participar, a equipe multidisciplinar vai participar e jamais devemos utilizar sem o conhecimento de toda a equipe e sem as questões prévias de avaliação”, esclareceu.

Ela também comentou sobre o uso crescente da cannabis sativa para apoiar o tratamento da dor crônica, fadiga, falta de apetite e outros efeitos colaterais. Além também das análises sobre se e como essa planta pode estar envolvida na redução do crescimento tumoral.

Daniel Gurgel, nutricionista especialista em nutrição clínica funcional e doutor em oncologia, palestrou sobre a suplementação dietética por meio de polivitamínicos. 

“A suplementação dietética representa para a indústria americana 30 bilhões de dólares com mais de 90 mil produtos no mercado. Sendo que 52% norte-americanos relatam o uso de pelo menos um suplemento. (…) Quando nós pensamos no suplemento vitamínico, muitas vezes o uso pela população excede o valor diário, causando diversos problemas”, expôs.

Daniel demonstrou, por meio da exibição de diversos estudos, que a suplementação não gerou um efeito protetor na prevenção do câncer.

Henrique Freire, nutricionista e mestre em nutrição humana, falou sobre a dieta cetogênica para pacientes oncológicos, especialmente com câncer de ovário, endométrio, mama, pâncreas e pulmão.

“A gente reduz o teor de carboidratos para que os corpos cetônicos sejam utilizados para gerar energia nas diversas atividades do corpo”, explicou. 

O simpósio foi moderado por Bianca Manzoli, nutricionista oncológica e Coordenadora do comitê de nutrição da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia.

Tema: Simpósio de Enfermagem – Enfermeiro Navegador

Organizador: Abrale

A presença de um(a) Enfermeiro(a) Navegador tem se tornado algo cada vez mais comum nos serviços de atendimento oncológico. Porém, ainda há grandes diferenças na disponibilidade e trabalho desse profissional no setor privado e público e também dependendo da faixa etária do paciente.

“Pacientes que são acompanhados por enfermeiros navegadores têm uma qualidade de vida 30% superior à dos pacientes que não são. (…) O objetivo principal da navegação do paciente é a eliminação de barreiras, e essa discussão vem acontecendo desde a década de 90”, informou Cibele Diório, Enfermeira Especialista em Oncologia, Especialista em Educação em Saúde Pública e moderadora do painel. 

No caso da Oncologia, o enfermeiro navegador orienta o paciente, seus familiares e cuidadores, colaborando com a clínica multidisciplinar, permitindo o rastreio oportuno do câncer, diagnóstico, tratamento e apoio no cuidado contínuo. Cabe a ele oferecer assistência individualizada ao paciente, família e cuidadores para atravessar as barreiras impostas pelo sistema de saúde.

“O enfermeiro navegador especializado em Oncologia está presente em toda a jornada do paciente, desde o diagnóstico até mesmo no pós-tratamento. A partir desta prática, é possível ter redução de tempo de espera no diagnóstico e início de tratamento; custo benefício e satisfação do paciente”, Cibele esclareceu.

Tamara Teixeira, enfermeira oncologista, MBA em Gestão Clínica e Hospitais, disse que para implementar esse tipo de serviço é preciso avaliar o sistema e os processos do centro de tratamento, delineamento do profissional navegador; liderança dedicada do programa de navegação.

“Nem todo paciente com câncer precisa ou quer ser navegado. Mas é preciso que todos tenham conhecimento a respeito e possam escolher”, afirmou. 

Juliana Marinho, Coordenadora do curso de Enfermagem em oncopediatria do Oncoensino e fundadora do Projeto Educacional Oncoped em Ação, abordou o papel do enfermeiro navegador na Oncologia Pediátrica.

“Em 2013, foi feito um documento a respeito deste modelo de atuação com instruções sobre quais caminhos percorrer. (…) É sempre importante salientar que quando falamos em assistência na Oncologia pediátrica, ela deve ser centrada no paciente, mas também na família. E a família é quem a criança diz que é”, ressaltou. 

Priscila Rangel, Enfermeira especialista em oncologia e Gerente do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, abordou a importância do trabalho do enfermeiro navegador estar alinhado com toda a instituição.

“É a liderança que irá nos apoiar, para que eu realmente consiga ter um plano de navegação que seja factível”, ela pontuou.

Priscila falou que, no sistema público, os benefícios de contar com o atendimento de navegador são vários. Sendo eles: favorecer uma jornada mais eficaz; manejar de forma precoce os eventos adversos; minimizar a hospitalização decorrente de eventos adversos graves; a segurança assistencial; interdisciplinaridade e também o acolhimento e humanização. 

Tema: Simpósio de Fisioterapia: Imunossupressão

Organizador: Abrale

Neste simpósio, três profissionais se juntaram para falar sobre fisioterapia nas leucemias da infância, imunoterapia e efeitos imunomediados e risco de sangramento na reabilitação de pacientes trombocitopênicos.

Giovana Nunes, deu início às apresentações expondo algumas informações sobre a leucemia infantil, sobre os tratamentos e declarou que, aproximadamente, 90% das crianças com menos de 15 anos sobrevivem. 

“Dentre os principais desafios está a escassez de estudos na área da pediatria oncológica. As práticas foram extrapoladas dos estudos em adultos. Mas, a reabilitação motora é essencial. Para isso, é preciso fazer uma avaliação funcional e monitoramento. E claro, usar terapias baseadas em evidências científicas. O monitoramento da criança é muito importante. Quando ela chega no diagnóstico, ela é uma criança. Quando vai para a quimio, seu organismo já muda”, esclareceu. 

Ela declarou que a fisioterapia é segura para a criança com o câncer, desde que seja  feita uma avaliação dos sintomas que a criança apresenta e não somente o resultado dos exames.

“Nosso papel é entrar bem antes de uma deficiência acontecer, pensando inclusive no futuro. Afinal, essa criança vai crescer e se tornar um adulto”, disse.

Flávio Ferreira, Médico titular da divisão de Oncologia torácica e cabeça e pescoço do Hospital de Câncer de Barretos, explicou como a imunoterapia funciona no combate ao câncer.

“Fisiologicamente, toda vez que um organismo estranho entra no nosso corpo, podendo ser uma célula tumoral, nosso sistema imunológico reconhece e tenta combatê-lo. Mas é possível que a célula cancerosa engane este sistema, modulando o processo inflamatório. E aí ela cria um ambiente, que facilita sua proliferação e multiplicação. Isso é chamado de escape imunológico. A imunoterapia impossibilita esse escape”, falou.

Ele também abordou os efeitos colaterais que esse tratamento pode causar, sendo a mais frequente a toxicidade cutânea, e salientou a importância de monitorar o paciente por conta dessas reações adversas. 

“A ideia é que eles sejam diagnosticados o quanto antes, para que o manejo seja aplicado rapidamente”, orientou. 

Erika Skupiens, fisioterapeuta com residência em Oncologia e Hematologia e mestre e doutora em Ciências Pneumológicas, fez uma apresentação falando sobre mieloma múltiplo e pontuou que 83% desses pacientes apresentam dor óssea, 70% sentem fraqueza generalizada e quase 10%, fraturas. 

“A fisioterapia tem por objetivo a analgesia, controle da fadiga, fortalecimento muscular e manutenção da funcionalidade, manutenção pulmonar, educação postural do paciente, preparação para o transplante de medula óssea e cirurgia, prevenção da síndrome de imobilismo, já que esse paciente tem uma tendência a fazer mais repouso e passa a não se exercitar tanto”, declarou.

Para alcançar esses objetivos, Erika pontuou que é possível realizar treinos de força e equilíbrio, por conta do enfraquecimento muscular ósseo, e laser, para controle da neuropatia periférica. Ela também passou algumas orientações sobre quando não é recomendado entrar com a fisioterapia e momentos que é preciso ter mais cuidado.

O painel foi moderado pela Carla Lopes, repórter, apresentadora e editora de texto.

Tema: Simpósio de nutrição – Estratégias nutricionais e imunonutrição no paciente oncológico

Organizador: Abrale

Neste simpósio, quatro palestrantes se reuniram para abordar imunidade e câncer; microbiota; probioticoterapia e uso de compostos bioativos para manejar imunidade.

Isabelle Novelli, nutricionista especialista em Nutrição Oncológica e doutoranda em Nutrição e Saúde Pública, abriu as apresentações falando sobre a complexidade do câncer e do sistema imune. 

“Quando falamos de sistema imune, pensamos em células que protegem nosso organismo contra bactérias, substâncias estranhas, incluindo o câncer. Isso é  o que esperamos que aconteça, mas quando o câncer se desenvolve, o sistema imunológico apresenta uma falha. Com isso, é importante abordarmos a imunovigilância”, alertou.

Ou seja, o paciente e o nutricionista precisam estar atentos ao estilo de vida do paciente, o que ele come e o ambiente no qual ele está inserido. Isso acontece porque o estilo de vida gera uma alteração no metabolismo, que tem um importante impacto na imunidade.

“Está tudo interligado. Não tem uma coisa sem a outra. O jeito que vivemos, impacta no metabolismo e também no tumor. Por meio de uma alimentação saudável, baseada no consumo de frutas, vegetais e carnes magras, vemos que é possível modular o imunometabolismo. E entendo que este processo, que ainda está no início, é o futuro da nutrição na oncologia”, aconselhou. 

Ana Paula Barrere, nutricionista e mestre em Ciências da Saúde, palestrou sobre a importância que o estado de nutrição tem tanto para a prevenção, quanto para o tratamento oncológico.

“O paciente melhor nutrido, no quesito qualidade, terá um melhor resultado. Vegetais e frutas são os alimentos que apresentam mais compostos bioativos, ajudando a prevenir doenças. 40% dos cânceres podem ser prevenidos com o consumo de frutas e vegetais”, disse.

Aprofundando na questão dos compostos bioativos, ela explicou que eles são aqueles alimentos que além das funções básicas, também produzem efeitos metabólicos e/ou fisiológicos na prevenção ou na relação com doenças. “Eles também são responsáveis pela cor, sabor e adstringência do alimento. (…) O composto bioativo é uma defesa do alimento e o agrotóxico acaba tirando um pouco dessa proteção. Ainda não temos muitos estudos na Oncologia comparando alimentos com e sem agrotóxicos, mas o alimento orgânico abrange mais nutrientes”, afirmou.

“O intestino não é mais visto como um órgão apenas digestivo e de absorção. Ele está diretamente associado com a nossa saúde global, por meio da microbiota equilibrada. O comprometimento deste órgão pode também comprometer o estado nutricional ligado à caquexia e sarcopenia do câncer, ligado a um pior prognóstico”, alertou Ilanna Marques, mestre em Nutrição e doutoranda em ciências. 

Probióticos, eles são definidos como linhagens vivas de microrganismos estritamente selecionados que, quando administrados em quantidade adequada, conferem um benefício para o hospedeiro. São bactérias benéficas, que serão ingeridas via alimentação. Esses probióticos ajudam o organismo a reduzir as bactérias patogênicas.

“Ainda temos limitações para uso de probióticos e simbióticos nos pacientes oncológicos. Dentre eles estão a heterogeneidade dos estudos, as amostras pequenas de pessoas nessas pesquisas, falta de indicadores para avaliar a intervenção probiótica e a escassez de estudos mostrando o efeito da combinação de cepas e diferentes doses”, pontuou. 

Tema: Simpósio Enfermagem – Aconselhamento genético

Organizador: Abrale

Aconselhamento genético vem sendo um tema cada mais mais discutido, não só entre os profissionais de saúde, mas também na sociedade como um todo. Isso porque, este processo lida com os problemas humanos associados à ocorrência ou ao risco de ocorrência de uma doença genética em uma família. Além de, claro, direcionar o tratamento da melhor maneira. 

Erika Maria Monteiro Santos, enfermeira de Práticas Avançadas na Medicina Genômica da BP – A Beneficência Portuguesa de SP, entende que a saúde de precisão é buscar a melhor abordagem de acordo com as alterações biológicas do indivíduo.

“A enfermagem genética genômica é a proteção da família, aos riscos para o desenvolvimento de doenças. O enfermeiro trabalha com a experiência das pessoas, empregando o seu conhecimento para isso. O câncer hereditário pode ser herdado de alterações genéticas do pai ou da mãe, e até mesmo após uma mudança genética ao nascimento. Como saber? É essencial fazer testes genéticos na família”, disse.  

O aconselhamento genético em Oncologia pode ser indicado pela equipe multiprofissional, e não somente pela equipe médica. 

“No pós-teste, é possível avaliar quais passos seguir. Se for constatado que o paciente tem grandes chances de desenvolver um câncer no futuro, por exemplo, é possível que algum procedimento seja realizado na região para evitar o desenvolvimento da doença. No SUS, o teste genético é feito em termos de pesquisa. Ele ainda não é oferecido aos usuários”, esclareceu.  

O aconselhamento genético, principalmente o oncológico, pode trazer algumas questões complicadas. Por isso toda informação é importante. 

“Quando o paciente for encaminhado para um aconselhamento genético, é preciso entender que ele será afetado, e sua família também. A avaliação familiar será essencial para lidar e comunicar o aconselhamento genético, e até mesmo o seu resultado. É preciso ter sensibilidade, respeitar as privacidades, não realizar julgamentos e entender as escolhas feitas pelo indivíduo e família. É importante entender que o indivíduo tem direito à escolha”, finalizou Natalia Campacci, enfermeira do Serviço de Medicina Genômica.

Simpósio Fisioterapia – Hematologia: Novos protocolos e Neoplasias hematológicas na infância

Organizador: Abrale

Tema – Alterações respiratórias

O transplante de células-tronco hematopoiéticas, popularmente conhecido como transplante de medula óssea, ainda é uma opção bastante utilizada nas doenças hematológicas, seja para a cura, seja como parte do protocolo terapêutico.

Quando o transplante é alogênico (doador 100% HLA compatível) ou haploidêntico (doador +50% HLA compatível), é possível que o paciente precise ficar internado por um tempo maior, além de necessitar tomar muitos cuidados no pós-TMO, por conta da DECH – Doença do Enxerto x Hospedeiro.  

De acordo com Indiara Soares, fisioterapeuta do Hospital A.C.Camargo, a função física acaba diminuindo significativamente neste período. 

“41% experimenta fadiga severa dentro de cinco anos após o TMO e 35% apresenta fadiga severa após 15 anos, então é uma condição que vai se estender após o procedimento. Como manejo, os exercícios estão associados a inúmeros benefícios. O programa de caminhada durante o período pode ser eficaz no aumento da capacidade aeróbica em comparação com nenhum exercício físico. A Fisioterapia é importante no tratamento pré, durante e após o TMO devido à sua eficácia multidimensional. Há evidências crescentes de que existe uma diferença significativa na força, resistência, função pulmonar e qualidade de vida”, falou. 

A COVID-19 também é uma doença que, quando se apresenta de forma grave, deixa o paciente bastante debilitado. 

Para José Alexandre Almeida, fisioterapeuta da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas, a reabilitação deve ser individual.

“A Fisioterapia pode ser indicada em pacientes que venham apresentar queda na qualidade de vida, sinais de fraqueza, dor muscular, tosse persistente, dessaturação, ansiedade, depressão, distúrbio do sono, distúrbio cardiovascular, alteração no fator de coagulação e doenças crônicas relacionadas ao sistema renal. E, claro, não podemos nos esquecer que cada indivíduo é único, então a forma que o paciente se apresentará após a COVID é diferente. Por isso, o programa de reabilitação deve ser individualizado. Devemos avaliar a tolerância ao exercício, com teste de caminhada de 6 minutos, teste do degrau, teste de sentar e levantar de um minuto. Durante a reabilitação, os pacientes devem estar constantemente monitorados, em especial a saturação de pulso de oxigênio, frequência cardíaca e pressão arterial sistêmica durante o exercício”, explicou. 

Para aqueles pacientes que tiveram câncer de pulmão, a Fisioterapia pode ser muito importante. 

“A própria dor no pós-operatório é um fator limitante, por conta de todas as 

complicações que podem fazer com que aumente a permanência hospitalar, aumente o custo da internação, aumento do risco infeccioso. A Fisioterapia pré-operatória sempre foi defendida. Ela precisa se atentar à incisão, cuidados com o dreno, fortalecimento de musculatura respiratória e orientações para dor, independente do tipo de cirurgia realizada”, finalizou Cíntia Carniel, professora de Fisioterapia na FMABC. 

Tema: Simpósio de Nutrição: Nutrição e políticas públicas voltadas para o câncer

Organizador: Abrale

O Brasil voltou ao mapa da fome. Entre 2018 e 2021, a fome atingiu 7,5 milhões de pessoas no país. Já são 49,6 milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade alimentar. E esta vulnerabilidade nunca deixou de ser uma realidade. O trabalho de políticas públicas, no que tange também o controle do câncer, torna-se cada vez mais importante nesse cenário. O ato de nutrir um ser humano, também é um ato político.

De acordo com Juliana Nabarrete, nutricionista da clínica Oncoassociados, as políticas públicas têm o papel de organizar os processos sociais e, a partir disso, alcançar o bem-estar da sociedade. Em nutrição, há diferentes pontos do sistema alimentar, da produção ao bem de consumo e que condicionam a situação de saúde e nutrição de indivíduos e coletividades. 

“No Brasil, temos a Política Nacional de Alimentação e Nutrição, que objetiva trazer a melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira, mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição. Na década de 40 e 60, a fome era vista como uma questão política. Durante a ditadura militar, este tema era algo proibido. Quando aconteceu a redemocratização do país, a questão passou a ser debatida novamente e em 2003 foi lançado o Fome Zero, programa do governo federal que entende como prioridade a erradicação da fome”, falou. 

Em 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome. Mas em 2019, com o governo do presidente Jair Bolsonaro, aconteceu a extinção do CONSEA. 

“Este era um programa bastante importante na alimentação. Neste mesmo ano, também aconteceu um esvaziamento de políticas públicas do SAN (Segurança Alimentar e Nutricional). Em 2020, as questões foram ainda pioradas, por conta da COVID-19. É importante ressaltar que a segurança alimentar e nutricional é a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente aos alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e social. E quando falamos do direito ao acesso a uma alimentação adequada, falamos do acesso à terra de qualidade e sem o uso de agrotóxicos, falamos do acesso à informação, por meio de uma rotulagem mais clara ao consumidor, por exemplo”, explicou. 

Daniela Dantas, coordenadora do Serviço de Nutrição do Centro Estadual de Oncologia da Bahia, abordou os impactos da pandemia 

“De acordo com o guia The State of Food Security and Nutrition in The World, a pandemia da COVID-19 estabeleceu uma situação de insegurança alimentar e nutricional e continua a expor fraquezas em nossos sistemas alimentares, ameaçando a vida e os meios de subsistência das pessoas, especialmente as mais vulneráveis. Dados deste relatório estimam que até 161 milhões de pessoas a mais passaram fome no mundo, quando comparado a 2019. Quase 2,37 bilhões de pessoas não tiveram acesso à alimentação adequada em 2020 e o alto custo da alimentação e os níveis persistentemente altos de pobreza e desigualdade de renda continuam a manter as dietas saudáveis fora do alcance de cerca de 3 bilhões de pessoas”, ressaltou.

A esse cenário, soma-se a estimativa do câncer no Brasil e também as diversas mudanças nos fluxos assistenciais oncológicos. 

“Neste período, aconteceram cancelamentos de consultas e tratamentos, represamento de diagnósticos. Na assistência nutricional, também houve restrição de atendimentos presenciais, além da realização de atendimento remoto e suspensão de atividades em grupo. Aconteceu uma queda de 56% nos atendimentos. Aqui no Centro Estadual de Oncologia da Bahia, trouxemos algumas medidas de adaptação para a assistência nutricional, como a triagem de pacientes mais vulneráveis, em tratamento de quimio e radio, a redução do agendamento de consultas presenciais, a ampliação do intervalo para consultas de retorno e a restrição do número de acompanhantes, a suspensão do Programa de Suplementação Nutricional. Agora, no cenário atual, os pacientes estão retornando às consultas e o sistema público, e o privado também, já sofrem pela grande procura. E esse reflexo vai perdurar nos próximos meses”. 

A questão da desigualdade social e racismo também estão ligadas à alimentação.

“No Brasil, a fome tem cara. Pesquisas apontam que mulheres, mães, pretas e pardas são as que mais enfrentam dificuldades no acesso aos alimentos. Enquanto 39% da população branca consome frutas e hortaliças pelo menos cinco dias da semana, o percentual é de apenas 29% na população negra. Mas quem tem fome, tem pressa, e isso torna urgente a participação do governo e as estratégias para implementação das políticas alimentares e nutricionais no Brasil”, lembrou Mariana Petracco, Promotora da Saúde na População Negra com foco na crítica branquitude. 

No Brasil, a alimentação é um direito constitucional previsto na lei, que estabelece o caráter determinante da alimentação e atribui ao MS o papel de formular políticas de alimentação e nutrição.

“As necessidades alimentares especiais são previstas para indivíduos portadores de alteração metabólica ou fisiológica que cause mudanças, temporárias ou permanentes, relacionadas à utilização biológica de nutrientes ou a via de consumo alimentar (enteral ou parental). O câncer é uma dessas condições.O atendimento nutricional está previsto a todos os pacientes oncológicos do SUS. Na ANS, alguns projetos visam possibilitar esse atendimento na saúde suplementar também. O estado nutricional é um forte preditor de qualidade e via em pacientes com câncer”, finalizou Erika Carvalho, nutricionista oncológica. 

Simpósio de Farmácia – Desabastecimento de medicamentos oncológicos

Organizador: Abrale

O desabastecimento de medicamentos no Brasil é algo que preocupa pacientes e profissionais que atuam na saúde. Afinal, não ter acesso ao tratamento ideal pode ser muito prejudicial para os resultados clínicos. 

De acordo com Arynaua Silveira, farmacêutico, dentre as possíveis causas externas de ruptura dos medicamentos oncológicos, pelas farmacêuticas, estão a indisponibilidade de fornecedores de insumos e/ou ativos; alterações da rota de síntese, gerando redesenvolvimento de formulações; exigência de certificações; demanda elevada em curto tempo; baixa demanda por longo período; desistência do fabricante; e descontinuação por adequações produtivas/comerciais.

“Produtos com baixa demanda são difíceis de adequar o estoque versus o tempo de validade considerada satisfatória para atender as necessidades do mercado. A produção em pequena escala exige uma amostragem relativamente significativa, que aumenta muito seu custo produtivo. Então, a falta de previsibilidade dificulta certos investimentos, quando comparado a outros produtos de demanda maior”, comentou.  

Para otimizar a falta de medicamentos, a indústria pode sinalizar para os locais que fazem aquisição de que haverá uma ruptura para que haja a possibilidade de o corpo clínico manejar seus pacientes para protocolos de tratamento, além de sinalizar aos órgãos reguladores o grau de risco desta ruptura. 

“Durante as orientações médicas e farmacêuticas, os profissionais envolvidos têm que trazer à tona a possível dificuldade ao acesso ao medicamento, o que gera estresse ao paciente e até mesmo falta de adesão ao medicamento. É importante entender que a falta não é porque a empresa quer que o medicamento falte. E sim, porque há uma gama de processos. O acesso ao medicamento, quando ele chega ao paciente, é apenas a pontinha do iceberg”. 

O Instituto Oncoguia, desde 2003, atua para que todos os pacientes oncológicos tenham acesso ao tratamento. 

“Nosso propósito é fortalecer, encorajar e guiar pessoas que convivem com o diagnóstico de câncer para que passem por esse desafio da melhor forma possível. É muito frequente as queixas relacionadas à falta de medicamentos. E por isso, sempre tentamos entender a origem do problema. Se é algo pontual ou não. Quando recebemos alguma denúncia de pacientes sobre a descontinuação de um medicamento, por exemplo, procuramos entender com o fabricante o porquê isso irá acontecer. Também buscamos contato com os órgãos de governo, como o Ministério da Saúde, sempre com o objetivo de não prejudicar, em nada, os protocolos terapêuticos do paciente. Afinal, a quebra de patente e o preço de um medicamento não o torna obsoleto. Eles continuam dando respostas positivas para muitos pacientes”, falou Flávia Kavalec, coordenadora do atendimento multicanal do Oncoguia.   

Há mais de dez anos o Brasil vem sofrendo com o desabastecimento e descontinuidade de medicamentos essenciais para o tratamento e transplantes de pacientes com câncer. Dentre os medicamentos em falta, recentemente, estão a bleomicina, bussulfano, melfalano, asparaginase, dentre outros. 

“Em 2019, um estudo realizado pela SOBRAFO levantou que entre os anos de 2016 e 2017, 48 medicamentos foram descontinuados no Brasil e destes, 20% foram descontinuados permanentemente. Nós, farmacêuticos, destacamos que precisamos estar muito atentos para esse tipo de situação, para assim atuarmos junto às equipes médicas e gestão hospitalar, até para pensarmos em substituição, se assim for possível e também para o prazo para a tomada dessa decisão. O foco é sempre garantir o melhor resultado no tratamento, e também a qualidade de vida. É preciso fazer tudo com muito cuidado, para ter o menor impacto possível no tratamento”, finalizou Larissa Barreto, farmacêutica clínica. 

Simpósio de Psicologia – Complex(idades): O Ciclo Vital e o TMO | Organizador: Abrale

PARTE 1

No primeiro Simpósio de Psicologia, o tema central foi o transplante de medula óssea (TMO), opção terapêutica que visa restabelecer a saúde de pacientes com doenças hematológicas, como os cânceres do sangue. 

“Este é um tratamento revolucionário, porque ele foi capaz de alterar desfechos que até pouco tempo atrás eram considerados devastadores. Porém, a depender do tipo de TMO que é realizado, os efeitos adversos podem ser graves, o que exige monitoramento intenso. No pós-transplante, os cuidados permanecem”, comentou Marita Aquino, psicóloga hospitalar do Centro de Oncologia e Hematologia. 

No TMO infantil, a conduta psicológica deve estar voltada à criança e também aos responsáveis. 

“Precisamos compreender qual a maneira correta de receber o paciente e essa família. Precisamos entender como essa família lidou com o diagnóstico, como a criança lidou com os tratamentos e quais tratamentos são estes, quais os sentidos construídos pela família nesse momento, como eles estão se preparando para o TMO, quem de fato é o responsável pela criança. A preocupação parental, com relação à evolução da criança, a culpa e raiva que não são resolvidas podem desenvolver um cuidado super protetor. Por isso precisamos dimensionar como a família irá lidar com o TMO”, falou Marita. 

A criança também precisa ter espaço e voz durante o tratamento. Mas ela não tem a facilidade de se comunicar, como o adulto. Então o psicólogo irá ajudá-la a se manifestar, a explicar como quer ser tratada. O profissional vai ajudar a criança a se apropriar do seu trajeto de cura.

“O brincar é uma excelente ferramenta. Por isso, é preciso criar espaços para brincadeira, seja no atendimento psicológico, no ambiente hospitalar, ou até mesmo em outros ambientes, desde que sejam seguros. Quando a criança não se sente à vontade para brincar, aí sim podemos entender que há algo de errado. E ao analisarmos as brincadeiras, podemos observar como o paciente se coloca”, reforçou. 

Para os adolescentes, os cuidados já são outros. Isso porque existe um conflito entre quem os adolescentes são, e quem as pessoas querem que eles sejam.  

“O adolescente vivencia de humor extremo. Ele pode acordar muito bem, ou muito mal-humorado, por exemplo. Para um adolescente que fará um TMO, o primeiro passo é avaliar o espaço em que ele ficará. O hospital, que por si só é um ambiente que gera ansiedade, tem a questão do isolamento, justamente em uma fase em que o adolescente está se abrindo ao mundo. O adolescente pode apresentar sofrimento físico, no sentido de dores e mudanças físicas, e até mesmo internas, quando não consegue se enxergar, quando se olha no espelho ou em fotos antes do câncer; mudanças sociais, por conta do isolamento, da separação da família, irmãos, amigos; sofrimentos espirituais, quando aparecem questionamentos e dúvidas do por que aquela situação está acontecendo; e sofrimentos emocionais, quando o adolescente precisa lidar com a realidade, incertezas, esperança e ressignificação”, explicou Paula Reine, psicóloga do Hospital Sírio Libanês.

Já o paciente adulto costuma apresentar uma dificuldade na questão da perda da autonomia, de acordo com Paulo Henrique de Assis, psicólogo da Hematologia e do TMO do Complexo Hospitalar da UFC. 

“Existem algumas variáveis para avaliar como este adulto irá se sair neste processo: a faixa etária, já que a depender da situação esta pessoa é o centro da família; a escolaridade, porque o nível de informação e compreensão sobre a própria situação faz a diferença; as questões econômicas e sociais; e geográficas, já que a depender da região, não há um centro especializado e o paciente irá precisar se deslocar. O pós-TMO também deve ser trabalhado, para que o paciente se sinta fortalecido para voltar às suas atividades cotidianas, como o trabalho, a faculdade”, salientou.  

Simpósio de Psicologia – Complex(idades): O Ciclo Vital e o TMO – Parte II

Organizador: Abrale

Pacientes idosos também recebem indicação para o TMO. Mas para Caio Baptista, psicólogo do Hospital São Luiz, não fomos preparados para envelhecer. 

“Antigamente, entendíamos as pessoas mais velhas como sabias. Mas o envelhecimento na contemporaneidade, do ponto de vista da psicologia social, associamos a velhice a algo negativo, feio. No ponto de vista da saúde, a velhice vem sendo muito trabalhada. Nas questões sociais, não”, reforçou. 

Mais de 60% dos tumores têm sua ocorrência em pessoas com mais de 65 anos de idade. Mais de 2/3 das mortes por doenças oncológicas ocorrem a partir dessa faixa etária. O olhar para o idoso leva em consideração não apenas as particularidades fisiológicas do sujeito, mas sua qualidade de vida e suporte social. 

“O TMO em idosos é algo mais atual, mas sim, é uma possibilidade a depender do seu estado-performance. O estado emocional será muito importante para os melhores resultados. Dentre as reações emocionais mais comuns estão o medo, a insegurança, justamente por conta da idade, se o corpo dará conta deste procedimento. A equipe multiprofissional, incluindo, claro, o psicólogo, será muito importante neste momento, para desmistificar alguns pensamentos. Outro ponto que é preciso ser trabalhado no pré-TMO é a questão dos sintomas que o paciente pode sentir, após o procedimento, para que ele não entenda que tais reações são por conta da velhice e de uma possível maior fragilidade, por conta da idade. No pós-TMO, que também é um momento bastante delicado, já que o paciente pode apresentar reações emocionais também, o acompanhamento psicológico deve continuar”, finalizou Caio.  

Simpósio de Farmácia – Inovação em farmácia

Organizador: Abrale

Neste I Simpósio de Fisioterapia, profissionais da área se reuniram para abordar as principais inovações da área. 

“Já começamos pesquisas clínicas com o Car-T Cell no Brasil e essa técnica vem demonstrando respostas fantásticas aos pacientes”, contou Flávia Mendes Leite, farmacêutica especialista em Oncologia clínica e hospitalar e  referência em Transplante de Medula Óssea e Car-T cell do Hospital São Rafael

Ela explicou como a técnica funciona e para quais casos estão realizando estudos clínicos, sendo que 19 desses estudos são aplicados no Brasil. 

“O estudo Kymriah, para linfomas, vem apresentando respostas muito positivas. A taxa de resposta é de 82,3%, sendo que 81% com resposta completa e tempo de duração de resposta de 28 meses, o que é ainda mais legal. Isso sem contar na qualidade de vida, já que o paciente poderia ficar livre das quimioterapias”, Flávia comentou.

A farmacêutica pontuou que os custos ainda são um desafio, pois o tratamento é muito caro tanto no país, quanto em outros locais e a logística é bastante complexa.

Karla Rodrigues Andrade, farmacêutica com habilitação em Análises Clínicas e especialista em Farmácia Hospitalar Oncológica, palestrou sobre o presente e as perspectivas futuras da Lenalidomida.

 “A lenalidomida é um imunomodulador oral, que tem suas estruturas relacionadas à talidomida, ou seja, desenhados utilizando a estrutura base da Talidomida com modificações químicas para otimizar suas propriedades imunológicas e anticancerígenas. Suas indicações são mieloma múltiplo, síndrome mielodisplásica, linfoma folicular ou linfoma de zona marginal, linfoma de células do manto”, esclareceu.

Henrique Dias, doutor pela PUCRS com seu projeto focado em Inteligência Artificial na Saúde, em colaboração com o Hospital Conceição de Porto Alegre, falou sobre o papel da Inteligência Artificial na Saúde.

“O uso na saúde é o nível do Eric Topol, que traz uma visão mais humana da tecnologia. Os profissionais sistematizaram os dados dos pacientes, na década de 80 e 90, e agora ele entende que podemos usar esses dados para facilitar o atendimento (…) Para trazer esse resultado na prática clínica, precisamos ter acesso aos dados, desenvolver uma pesquisa, para ver se a estratégia vai trazer melhoria. Temos que avaliar a adoção dessa pesquisa, depois monitorar e depois de entender que a ferramenta trouxe melhoria, podemos implementar na prática clínica.”

Ele contou que com o projeto NoHarm, foi possível avaliar mais de 350 mil prescrições médicas, 4 milhões de medicamentos processados, 80.500 avaliações da farmácia clínica e 9600 intervenções. 

“Dessas, 75% foram aceitas pelos médicos, e cerca de 5800 vidas foram impactadas. Tudo isso gerou uma economia de mais de 1 milhão de reais ao hospital”, compartilhou. 

Ana Helena Ulbrich, farmacêutica, mestre e doutora em química e especializada em Docência Superior e Qualidade em Saúde e Segurança do Paciente, alertou para a necessidade de criar barreiras para evitar que o erro chegue ao paciente e gere efeitos adversos. 

“Existem vários tipos de incidentes, mas alguns são mais possíveis dentro do prontuário eletrônico. Como sou farmacêutica clínica, decidi trabalhar com os erros com o uso de medicamentos. Depois de processar os dados, criamos o algoritmo. Com isso, conseguimos ver quais são as prescrições críticas de medicamentos, com overdose ou superdose, a frequência do uso dos medicamentos e também a apresentação desta droga. E a partir disso, a ferramenta envia alertas aos profissionais”, esclareceu. 

Simpósio de Psicologia – Covid 19: o impacto psicológico nas percepções do paciente, familiar e profissional.

Organizador: Abrale

Quando a pandemia chegou, ela veio como um tsunami, fazendo uma pressão em todos, inclusive nos centros de saúde do país. Pensando no cenário do câncer, a literatura mostra a dificuldade no diagnóstico e também no pós-tratamento, por conta do medo de ir ao hospital. E no futuro, isso pode ser muito prejudicial.

Erika Cardoso, psicóloga do Departamento de Psicologia da FFCLRP-USP, conversou com grupos de pacientes com cânceres e outras doenças hematológicas para entender como estava o cenário, alguns meses após a pandemia. 

“A insegurança foi um dos principais achados. E isso está ligado com quadros de ansiedade, por conta do medo de se contaminar com o vírus ou de não ter segurança para o que vem no futuro.  O grupo com câncer tem mais quadros psiquiátricos, do que o grupo sem câncer. E isso é bastante preocupante. Os pacientes com câncer também apresentam mais medo a respeito do vírus”, sinalizou. 

Agnes Sewo, psicóloga no Hospital A.C.Camargo, entende que o núcleo familiar tem muita importância ao longo de um tratamento oncológico. 

“Esta é a primeira instituição da qual fazemos parte e sustenta o equilíbrio ao longo do desenvolvimento.  Ensina valores, convívio na sociedade e realiza direcionamentos, apoio, segurança, afeto.  O cuidador é aquele que cuida, a partir dos princípios definidos por uma instituição específica ou responsável direto, zelando pelo bem-estar do indivíduo”, comentou.

A Classificação Brasileira de Ocupações define 4 tipos de cuidadores:

Primários – Aqueles que prestam cuidados diretos ao paciente, assumindo a responsabilidade pelas diligências fundamentais de que ele necessita.

Secundários – Aqueles que prestam auxílios eventuais, cuidados menos importantes ou complementares entre os requeridos ao doente. 

Formais – Aqueles que têm uma formação específica para os cuidados que prestam, sendo remunerados para tanto.

Informais – Aqueles que passam a cuidar e aprendem, na prática, a melhor forma de auxiliar o paciente, não sendo remunerado para isso.

“A sociedade acaba exigindo que o cuidador familiar seja 100% presente, firme. Mas é preciso lembrar que este cuidador é um ser humano, que pode sim apresentar sofrimento, fraqueza. Por isso, o cuidador também precisa ser cuidado.  A pandemia trouxe incertezas, imprevisibilidade e a necessidade de um distanciamento social. E claro que essa situação também resvalou nos cuidadores, que passaram a apresentar uma nova preocupação: o coronavírus. Por isso, o suporte psicológico ao familiar também se faz necessário. Ele ajudará a trazer um novo significado, um novo olhar para a vida e para as suas necessidades e limitações. Será um espaço para que ele possa expressar seus sentimentos, emoções e pensamentos”, falou Agnes. 

De acordo com Fabio Gomes, psicólogo especializado em Oncologia e responsável pela Psicologia da Abrale, no começo da pandemia, os profissionais de saúde tiveram acesso a cursos sobre a COVID-19, para saber como atuar nos hospitais, sem se contaminarem. 

“Porém, muitos de nós foram contaminados. Me vi atuando em um covidário, no hospital em que atendia, logo após ter voltado das férias. E tive medo, confesso. Cuidar do profissional de saúde também é muito importante. A cada paciente que vinha a óbito, por conta do vírus, a equipe de saúde ficava bastante abalada. Assim como a família. E aí a equipe de Psicologia era acionada. Em um primeiro momento, não se sabia muito como fazer isso. Afinal, o psicólogo ou o psico-oncologista não atende a equipe de saúde do próprio hospital em que atua. Não podemos atender ‘conhecidos’. Mas podemos oferecer acolhimento e, com isso, encaminhar estes profissionais a procurar ajuda com outros psicólogos ou até mesmo psiquiatras”, pontuou. 

Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Psicologia, com 200 mil profissionais de saúde, mostrou que o medo foi o principal sentimento entre eles. A sobrecarga de trabalho, advinda com a COVID-19, também ajudou a trazer ansiedade, estresse, depressão e até mesmo casos de suicídio. 

“E o profissional psicólogo, quem cuida dele? Existe um estigma que psicólogo não tem problema, quando na verdade, o psicólogo precisa fazer psicoterapia também. O autocuidado é importante a todos”, finalizou Fábio.  

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