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Tema: Mobilização para a qualidade no cuidado do câncer:  City Cancer Challenge Porto Alegre

Organizador: Femama

A Qualidade no Cuidado Oncológico, especialmente no diagnóstico, foi o tema do painel, que utilizou como base os resultados do City Câncer Challenge realizado em Porto Alegre. Os palestrantes debateram quais são os principais desafios e como melhorar o diagnóstico do câncer, em escala nacional, a partir de ações realizadas em uma cidade.

“A assistência médica deveria ser um direito e não um privilégio. Isso está garantido na constituição, mas, na realidade, nós que trabalhamos na área, vemos que não acontece”, disse Maira Caleffi, mastologista, presidente voluntária da FEMAMA e líder do Comitê Executivo do City Cancer Challenge Porto Alegre.

Partindo desse ponto, ela apresentou como as cidades podem alcançar um cenário de qualidade em oncologia acessível e com o cuidado centrado no paciente utilizando a colaboração entre os diferentes hospitais e setores da comunidade. Por meio de dados, essas soluções regionais podem servir como orientação para impactos no âmbito nacional.

Mas, o que é qualidade? Qual deve ser o parâmetro para julgar se algo é ou não de qualidade? O Dr. Emílio Assis, patologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), iniciou sua apresentação respondendo essas perguntas.

Ele considerou que o conceito de qualidade não está, diretamente, ligado à conformidade com os requisitos estabelecidos. Mas sim, que um serviço só é de qualidade quando quem o consome diz que é.

Dentro de um laboratório, por exemplo, o controle de qualidade é um meio para um fim. Isso porque, quanto mais se conhecer e entender um fluxo, menores são as probabilidades de um erro acontecer e, consequentemente,  o resultado final será mais satisfatório.

 “É como o mise en place de uma receita, é preciso fazer um check-list. Eu vejo os ingredientes que eu preciso para executar um procedimento e organizo os ingredientes na ordem e quantidade necessária. Assim, quando eu começar a realizar esse procedimento, ele será feito da melhor forma e o mais rápido possível”, explicou.

Apesar de haver um Manual das Boas Práticas, para guiar os profissionais e evitar erros nos diagnósticos, há vários obstáculos no processo que dificultam para  que o resultado do trabalho seja adequado.de um processo. Como: baixa remuneração dos médicos do Sistema Único de Saúde; baixa quantidade de patologistas no país; a concentração de profissionais em grandes centros e a não disseminação da cultura de qualidade.

A Drª. Daniela Rosa, Oncologista do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre, também levou em consideração os desafios na Saúde brasileira e ressaltou que “a maioria das diretrizes e protocolos de tratamento vem de países com muitos recursos. Mesmo o Sistema Único de Saúde (SUS) sendo reconhecido como um dos melhores sistemas do mundo por garantir o direito à saúde, mas temos problemas de implementação de protocolos internacionais. Por isso, é preciso ter diretrizes adaptadas para locais com menos recursos. ”

A telemedicina e ações virtuais foram abordadas no debate pela Dra. Rafaela K.Dal Molin, Coordenadora do Plano de Atividades City Cancer Challenge, que apresentou a Task force Covid-19.

“Sabemos que durante a pandemia tivemos uma diminuição nos diagnósticos e tratamentos na região, para recuperarmos os atendimentos até mais rápido do que tínhamos planejado aplicamos algumas task forces. Afinal, o câncer não espera. Como, encontros dos grupos de forma virtual, combate às fake news, e, com os pacientes, fizemos também vídeos estimulando que os atendimentos não fossem abandonados”, contou.

 O painel foi moderado por Maira Caleffi.

Tema: Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no SUS

Organizador: Instituto Avon

Uma pesquisa realizada em parceria do Instituto Avon com o Observatório de Oncologia, projeto do Movimento TJCC, obteve achados importantes sobre o câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS) que foram expostos neste painel. Cada um dos pontos estudados e exibidos precisam ser trabalhados para que o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento sejam melhorados. Ainda foram apresentados os principais fatores utilizados pela saúde pública para a criação dos programas de rastreio deste tipo de câncer e quais são as suas consequências na saúde das mulheres.

“Buscamos, por meio desse estudo, contar a jornada da paciente ao longo de todo o sistema de saúde. Desde o rastreamento e diagnóstico do câncer de mama até a execução, de fato, do tratamento”, iniciou Nelson Correa, Pesquisador e cientista de dados da Abrale.

Um dos principais problemas apontados pelo estudo foi o aumento, nos últimos quatro anos, do tempo médio para a realização do diagnóstico do câncer de mama no Brasil. Antes eram 28 dias, agora, são 48 – sendo que 57% das mulheres que utilizam o SUS levaram mais de 60 dias para dar início ao tratamento.

Outra análise feita no estudo foi a relação entre a atenção oncológica de acordo com a raça/cor e a idade. 

Apesar de haver uma predominância de mulheres brancas com esse tipo de tumor, as mulheres pretas e pardas apresentaram uma maior proporção de diagnóstico tardio e demoraram mais para dar início ao tratamento.

Já em relação à idade, foi mostrado que mulheres na faixa etária de 40-49 anos, não contempladas na política de rastreamento, foram diagnosticadas tardiamente em 59% dos casos. Isso, além de ser prejudicial para a paciente, gera mais gastos tanto no tratamento ambulatorial, 10,3% superior, quanto hospitalar, 6,9%.

Dr. João Bosco, Mastologista e ginecologista membro da Sociedade Brasileira de Mastologia, e a Silvia Cristina, Deputada Federal e presidente da Frente Parlamentar em Prol da Luta contra o Câncer, concordaram que o principal problema do Brasil é o acesso aos exames. A Deputada ressaltou que a quantidade de mamógrafos, em Rondônia, não é suficiente para diagnosticar as mulheres precocemente.

Por outro lado, o Dr. Bosco explicou que esse método pode não ser o mais indicado para identificar o câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos.

“A mamografia pode não ser tão boa em mulheres abaixo de 40 anos, pois a mama possui mais hormônio e, por isso, é mais densa. Já a mama de uma mulher com mais de 50 anos, é mais transparente, ou seja, é mais fácil de enxergar um tumor. Mas, de qualquer forma, a mamografia aumenta a quantidade de diagnósticos nas mulheres mais jovem”, disse.

O Dr. Dráuzio Varella, Médico oncologista, cientista e escritor brasileiro, salientou que a decisão do SUS de realizar o rastreamento somente em mulheres acima de 50 anos é uma decisão financeira e que, na verdade, há recursos suficientes para serviços de maneira eficiente.

“Você não pode pegar a população que tem um risco, de, mais ou menos 30%, e ignorar essa população. Você diz ‘não, essa daqui, como tem incidência mais baixa, nós não vamos gastar com ela’. A questão é totalmente financeira”, falou.

Ele ainda completou dizendo que não se surpreendeu com o estudo ter mostrado que mulheres negras são diagnosticadas mais tardiamente devido à falta de educação, inclusive sexual, racismo e distância até o hospital.

“Tenho uma experiência longa na prisão e em comunidades carentes do Brasil. As mulheres têm uma vida de grandes preocupações, com os filhos, com a família, com o trabalho. Você acha que elas vão estar preocupadas com o seio? Elas acabam por procurar o médico somente quando aparece um câncer na mama. E as mulheres negras são parte dessa sociedade, então não é estranho para mim ver estes dados”, afirmou. 

O debate foi mediado por Inês de Castro, jornalista da Rádio BandNews.

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