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Tema: Pesquisa clínica no Brasil

Organizador: Movimento TJCC

A pesquisa clínica é parte essencial do processo de aprovação de um novo tratamento, somente com essa etapa é possível identificar se o novo método realmente é benéfico e seguro para o homem. Esse painel contou com a discussão sobre: o projeto de Lei que amplia o acesso da população aos testes; os prazos para a aprovação dos estudos; as mudanças que a COVID-19 trouxe para esse cenário e a importância de ouvir o paciente que está participando da pesquisa.

O Brasil está na 24ª posição na lista de países que mais participam e realizam estudos clínicos no mundo. O Dr. Fábio Franke, Presidente da Aliança Pesquisa Clínica Brasil, disse que o fator mais importante para esse resultado é o ambiente regulatório burocrático, com gargalos e demorado. Além disso, a população dos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste tem um baixo acesso a esses testes. Ou seja, os estudos clínicos não chegam em todos os lugares do país.

“Pensando em resolver este problema, foi proposta a PL 7.083/17, que discorre sobre a pesquisa com seres humanos. Há lei que regulamenta pesquisa com animais desde 2008, mas ainda não há uma lei para as pesquisas com seres humanos”, comentou.

Ele ainda ressaltou que ninguém é obrigado a participar de um estudo, mas que as pessoas têm o desejo de fazer parte, pois sabem que são tratamentos inovadores e porque, dessa forma, elas ajudam os resultados a saírem mais rápidos. Por exemplo, as vacinas que estão sendo criadas para a COVID-19 possam ser testadas e para que os resultados saiam mais rápido, é necessário ter muitos voluntários.

“Entendemos que com a aprovação deste Projeto de Lei, conseguiremos expandir a Pesquisa Clínica por todo o Brasil por meio de programas de capacitações, por exemplo. Acredito que iremos pular do 24º para o 10º lugar, no mundo. Todos sairão ganhando, mas, principalmente, os pacientes com câncer do Brasil”, o Dr. Franke considerou.

Porém, para que um estudo clínico (fase 3) seja considerado como seguro, o medicamento precisa ter sido submetido previamente a outros testes e ter apresentado resultados positivos. Mas, nem sempre isso acontece.

Dr. Bishal Gyawali, Professor assistente no Departamento de Ciências de Saúde Pública e cientista da Divisão de Tratamento e Epidemiologia do Câncer, no Canadá, contou sobre um estudo no qual 40% dos testes em fase 3 foram realizados sem uma fase 2 que demonstrasse a eficácia e segurança do tratamento – 14% deles, na verdade, apresentou resultados negativos na fase 2.

Mesmo que o teste tenha passado pelas outras fases e seja aprovado, é possível que os pacientes manifestem alguns efeitos colaterais. Cabe aos organizadores e avaliadores do estudo a decisão se são reações “aceitáveis” ou não.

“Quando falamos de pesquisa clínica, falamos e pensamos sobre ter acesso à drogas de graça. Mas a droga não é tudo. Precisamos de pacientes mais envolvidos e no centro das decisões. E o paciente precisa estar ciente de tudo o que pode acontecer durante a pesquisa e não deixar de lado a sua qualidade de vida”, frisou.

Em contraposição ao cenário apontado pelo Dr. Franke, o Dr. Jorge Venâncio, Médico coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (Conep), apresentou o trabalho de análises e aprovações de estudos que tem sido realizado desde o início da pandemia.

“Montamos uma força tarefa e passamos a ter reuniões diárias, inclusive nos fins de semana, e chegamos a ter mais 700 estudos sobre a COVID aprovados. Deste, 200 eram de ensaios clínicos aprovados. Levou, cerca de, sete dias para análise. E para as vacinas, o tempo estava bem abaixo disso. Para a nossa surpresa, recebemos até um questionamento se não estávamos indo rápido demais”, contou.

Ele ainda informou que a Conep é contra o PL 7.083/17, pois considera um “retrocesso ao que temos hoje”. Atualmente, quando o estudo acaba, o paciente pode continuar fazendo uso do medicamento testado. Entretanto, de acordo com o Dr. Venâncio, com a nova Lei, o paciente só teria acesso ao tratamento por mais cinco após após o fim da pesquisa clínica.

Além disso, o PL traz preocupação em relação à independência da CONEP e quem seriam os indicados para trabalhar na Comissão.

“A independência da CONEP nos parece ameaçada com esse projeto de lei. No projeto não se fala quem será indicado para atuar na CONEP e, com isso, corre-se o risco de os critérios serem apenas políticos. Imagina ter uma CONEP com terraplanistas? É bastante preocupante”, questionou.

O debate foi moderado por Tiago Cepas, sanitarista especialista em gestão de saúde, membro do Comitê de Ética do Hospital Moriah e responsável pela área de Políticas Públicas e Advocacy da Abrale. 

Tema: Os benefícios da radioterapia moderna e os obstáculos para a sua incorporação

Organizador: Varian

Para um paciente com câncer conseguir realizar a radioterapia, ele precisa se deslocar, em média, 72 km, sendo que mais de 140 milhões de brasileiros não possuem esse tipo de terapia na sua cidade. A questão da falta de acesso é um dos principais desafios para esse tipo de tratamento oncológico.

Dr. Paulo Lázaro de Moraes, radioterapeuta do Hospital Hospital Beneficência Portuguesa de SP e do Grupo Oncoclínicas, apresentou um histórico da radioterapia e contou sobre os benefícios que esse método, e suas inovações, podem trazer para a pessoa em tratamento contra o câncer.

Além disso, ele mostrou que os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) em radioterapia estão estáveis desde 2009, sofreu apenas um aumento em 2011, devido à uma correção de tabela. Com isso, há uma previsão que em 2022, 50% do parque radioterápico estará obsoleto.

“Pensando um pouco mais para frente, em 2035, a chance de você precisar de radioterapia, diante da perspectiva de diagnósticos no país, é grande. Será necessário um aumento de 150% de aparelhos para atender todos os pacientes, isso tanto no privado quando no SUS”, ressaltou.

Para Tiago Farina, Diretor jurídico e de advocacy do Instituto Oncoguia e gerente jurídico da FEHOSP e da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a radioterapia já está em colapso há muito tempo. Ele apontou que no relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) de 2010, cerca de 90 mil pessoas não tinham acesso a esse tratamento anualmente – esse número continua praticamente o mesmo nos dias de hoje.

“No caso da radioterapia, as mudanças não vão surgir a curto e médio, porque você precisa da instalação de um novo parque radiológico e não é uma reforma que nem a gente faz na nossa casa. A arquitetura e logística são complexas e custosas. Mesmo tendo equipamento, você precisa de uma equipe altamente qualificada e você tem carência de profissionais. Precisamos de políticas públicas nesse sentido”, considerou.

Silvia Cristina, Deputada Federal e coordenadora da Frente Parlamentar Mista em prol da Luta Contra o Câncer, reforçou a necessidade do aumento do números de máquinas radioterápicas e da expansão para locais que ainda não possuem esse tipo de tratamento. 

“A pandemia atrapalhou bastante esse trabalho, mas mostrou que o dinheiro apareceu para o combate da COVID-19. Com isso, nós percebemos que existe dinheiro suficiente para que outras frentes também sejam atendidas. O câncer existe há séculos e não vai deixar de acontecer, como uma pandemia”, pontuou.

Melissa Ribeiro, sobrevivente de câncer de laringe e presidente voluntária na ACBG Brasil, protestou sobre a diferença da realidade na Saúde privada e pública, “tudo que é bom não chega na rede pública. ”

Ela retomou o plano de expansão citado pela deputada Silvia Cristina e questionou a intenção do Governo de dar andamento ao projeto.

“Na minha primeira conversa com o Ministro da Saúde sobre câncer de cabeça e pescoço ele mostrou um mapa do Brasil. Da região nordeste para baixo, tinha um plano de expansão, mas a parte norte inteira era como se ele tivesse excluído do mapa. Quando perguntei para ele sobre isso, ele disse que não teríamos condições de fazer nem metade daquele projeto. Cinco anos depois, eu já vi esse mesmo slide em duas audiências diferentes do Ministério da Saúde, então não sei se eles realmente tem interesse em fazer esse plano acontecer”, disse.

Dolores Maria Domenica Zanetti Pece, paciente de câncer de cabeça e pescoço, Carlos Eduardo de Almeida, sobrevivente do tumor de próstata, e Tânia Silva, sobrevivente do câncer de mama, todos submetidos à radioterapia, relataram como foi o tratamento. 

“A gente chora, a gente ri, a gente se frustra por causa das dores, mas quando isso passa, a gente vê que é para o nosso bem e é tudo um raio de Sol”, disse Dolores.

Tema: Tecnologia x humanização do tratamento oncológico: esta equação é possível?

Organizador: Libbs

Neste painel foram mostradas possíveis respostas para a questão se a tecnologia pode auxiliar na humanização ou se ela, na verdade, afasta o paciente oncológico da equipe médica. Foram abordados temas a respeito de qual forma o cenário do coronavírus pode trazer avanços para a Oncologia; se o uso de aplicativos é benéfico para o paciente e para os profissionais da saúde e quais são as mudanças que as tecnologias leves causaram e vão causar na prática clínica. 

“A gente vive um admirável mundo novo. Coisas que eram promessas há dez anos, se caracterizaram como certeza. Os avanços vão desde coisas complexas, como a medicina personalizada, até coisas, aparentemente, simples, como a quimioterapia oral”, iniciou Luiz Vicente Rizzo, médico diretor superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo.

Ele ressaltou que o atraso em relação à incorporação de tecnologias acontece, principalmente, no Sistema Único de Saúde (SUS) e que a melhor forma de equiparar a desigualdade é por meio de pesquisas e mecanismos regulatórios mais ágeis.

O Dr. Rizzo considerou que o cenário da pandemia pode ser utilizado para obter progressos na Oncologia. Os principais legados que serão deixados pela crise do coronavírus são a importância do contato humano, o compartilhamento e análise de dados e a possibilidade das agências regulatórias poderem ser eficientes e cuidadosas ao mesmo tempo.

Cesar Filho, graduado em Biologia com ênfase em Biotecnologia e fundador da startup WeCancer, disse acreditar que o problema não está na incorporação da tecnologia, mas sim no ser humano. “Então aquele médico que já não quer ter contato com o paciente, utiliza a tecnologia com esse objetivo”, pontuou. 

Ele explicou que apesar de haver uma diminuição no investimento estatal, o que dificulta a inovação, os investidores de startups estão focados em aplicativos que auxiliam em questões de saúde. A área ocupa, atualmente, o segundo ramo preferidos dos investidores.

De acordo com uma pesquisa apresentada por Cesar, pacientes que são acompanhados por aplicativos vivem, em média, cinco meses a mais com aumento de 26% na qualidade de vida. Em consequência, há ainda uma uma redução no custo do tratamento.

“O número de casos de câncer no Brasil vão dobrar em 2035, se hoje já é difícil tratar o paciente no SUS, como será daqui para frente? Vamos ter o dobro de leitos, profissionais multidisciplinar e afins?”, questionou.

Vera Bifulgo, psicóloga clínica, psico-oncologista, integrante da Equipe de Cuidados Paliativos do ICAVC, comentou que todo momento de crise é um momento de criar. Dessa forma, a COVID-19 forçou uma aceleração da humanização no tratamento e a aproximou da tecnologia, devido ao distanciamento social.

“Não é humanizar as estruturas físicas, mas sim o profissional, então é humanizar a pessoa que está criando a tecnologia”, falou.

Ela pontuou, entretanto, que o ideal é garantir que haja um uso parcimonioso da inovação e garantir que todos, inclusive os médicos que não possuem muita familiaridade com dispositivos modernos, tenham acesso.

O debate foi moderado por André Biernath, repórter da Veja Saúde (Editora Abril).

Planejando antes, durante e depois do TMO

Organização: Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea

O transplante de células-tronco hematopoiéticas, popularmente conhecimento por transplante de medula óssea (TMO), é um procedimento bastante conhecido no meio da Onco-Hematologia e Hematologia. Ele pode ser indicado para o tratamento curativo de doenças como linfomas, leucemias e talassemia.

Seu principal objetivo é oferecer uma substituição do tecido hematopoiético autólogo (células do próprio paciente) ou alogênico (células de um doador), para, assim, destruir uma doença maligna. As principais fontes celulares para a realização do procedimento são: medula óssea, sangue periférico e cordão umbilical. 

O Brasil hoje tem um dos maiores bancos de doadores de medula óssea de todo o mundo, com mais de 4 milhões de pessoas inscritas. Mas, de acordo com o Dr. Nelson Hamerschlak, médico especialista em TMO e presidente da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, o país fica abaixo da média mundial na realização do procedimento. 

“Temos no Brasil 87 centros de transplantes autorizados. A maioria está no Sudeste, principalmente em São Paulo, que possui 38 desses centros. Então, mesmo com o crescimento anual de transplantes reportados, nosso país ainda não tem um número adequado de cirurgias para cada 10 milhões de habitantes e, neste ano, por conta da Covid-19, haverá diminuição no número. A Argentina, países da Europa e os Estados Unidos têm mais de 100 transplantes por mais de 10 milhões de habitantes”, comentou o médico. 

Em crianças, é importante ficar atento aos efeitos pós-TMO.

“Hoje, a principal indicação para o TMO em crianças é para os casos de leucemias agudas, por meio do transplante alogênico. Mas, é possível que algumas complicações surjam a longo prazo, como déficit de crescimento e cognitivo, devido ao uso da radioterapia em doses altas, infertilidade e maior chance de desenvolver um câncer secundário quando adultas”, alertou Juliana Foloni, médica no setor de Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas no Instituto da Criança HCFMUSP e no Hospital Israelita Albert Einstein.

Já para os idosos, o TMO por muito tempo foi um tabu, justamente por ser considerado um procedimento agressivo no pré e pós-procedimento. Mas, as coisas mudaram bastante.

“Hoje, temos um aumento no número de idosos no país. E o envelhecimento está associado ao câncer. Mas o processo de envelhecer é diferente para cada pessoa, por conta dos hábitos de vida adotados. A idade cronológica é, sem dúvidas, diferente da idade funcional. Por isso é essencial fazermos a chamada Avaliação Geriátrica Ampla, que nos permite analisar a funcionalidade do idoso, as questões nutricionais, o risco de toxicidade do tratamento e quais as melhores medidas de tratamento. Hoje, o TMO é uma realidade nas pessoas acima dos 60 anos”, relatou Polianna Mara Rodrigues de Souza, médica do grupo de suporte ao paciente oncológico do Centro de Oncologia e Hematologia na Hospital Israelita Albert Einstein

Agora, os cuidados no pós-TMO devem ser seguidos com muita atenção. É o que declarou Morgani Rodrigues, médica assistente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.

“O TMO começa quando ele termina e a parte de cuidado é essencial para o sucesso do procedimento. Nos primeiros três meses, os principais pontos de atenção são as infecções bacterianas e fungos, que devem ser evitadas e, caso surjam, tratadas rapidamente. Após este período inicial, há a preocupação com o DECH, um conjunto de complicações que podem ocorrer nos pacientes que realizaram o TMO aparentado, quando o corpo não reconhece as células doadas e passa a combatê-las”. 

Novas tecnologias para o tratamento do câncer: o que a sociedade espera

Organização: Movimento TJCC

No passado, o mesmo medicamento ou procedimento atendia às necessidades do mesmo tipo de câncer. Essa realidade mudou e diferentes pacientes têm diferentes necessidades. Temos muitas expectativas para o futuro, passando por humanização, novos assistentes com inteligência artificial até novas terapias inovadoras. 

Segundo Luiz Antônio Santini, pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, as únicas abordagens para o combate ao câncer até o final dos anos 1990, eram cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Mas com os avanços recentes, hoje as tecnologias são muito mais assertivas e personalizadas. 

“Em um estudo realizado com pesquisadores internacionais, profissionais de saúde e integrantes do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, foram identificados mais de nove tipos de tecnologias que podem ter um efeito mais significativo. Isso tanto para o diagnóstico, quanto para o tratamento. Edição genômica, imagem molecular, terapias com anticorpos, vírus oncolíticos, biópsia líquida, terapia com RNA e vacina terapêutica são algumas delas”, disse.

Segundo Santini, quatro destas terapias apresentaram um melhor resultado:

  • Anticorpos, com o objetivo de bloquear o crescimento e disseminação de células malignas.
  • Biópsia líquida, que pode gerar uma revolução no diagnóstico, sendo capaz de identificar fragmentos de DNA em tumores na corrente sanguínea.
  • Edição genômica, uma ferramenta que possibilita a mudança do DNA de algum organismo, com potencial para correção de mutações relacionadas ao câncer.
  • Imagem molecular, técnica que localiza e quantifica as alterações de processos biológicos moleculares. 

José Gomes Temporão, ex-ministro da saúde e pesquisador da Fiocruz, abordou as diferenças no acesso à tecnologia via sistemas públicos e privados de saúde.

“Na saúde suplementar, com certeza há maior facilidade para a incorporação de novas tecnologias. Mas os médicos que trabalham apenas no SUS tendem a ter uma avaliação mais positiva, se compararmos com aqueles que atuam somente no sistema privado. No SUS, as principais questões estão relacionadas às questões estruturais e no particular, de integração”, falou.

A humanização do tratamento deve ser parte essencial, em meio às tecnologias e ciência.

“Cuidado paliativo não é a arte de interromper tratamento, é a arte de você colaborar com o tratamento que está sendo oferecido. Se essa oportunidade de oferecer dignidade for feita com primor, a gente vai minimizar essas intervenções agressivas e vai favorecer que as pessoas consigam interagir com esse diagnóstico de maneira mais potente e corajosa que tem sido ultimamente”, falou Ana Quintana, fundadora da Associação Casa do Cuidar, Prática e Ensino em Cuidados Paliativos. 

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