
Transposição uterina traz esperança para mulheres que desejam engravidar após tratamento de câncer
Um procedimento médico traz esperança para mulheres que desejam engravidar depois do tratamento de um câncer. A transposição uterina é uma técnica cirúrgica desenvolvida no Brasil e que já vem sendo usada aqui e em outros países. Agora, o primeiro bebê gerado por uma mãe que passou pelo procedimento acaba de nascer.
O método foi desenvolvido pelo cirurgião oncológico Reitan Ribeiro, em Curitiba, e consiste em transferir os órgãos reprodutivos da mulher para a parte de cima do abdômen. Quando o útero sobe, a vagina é temporariamente fechada e a região do colo passa a ser conectada ao umbigo, que é aberto para liberar o fluxo menstrual. O procedimento é desfeito quando o tratamento de radioterapia termina.
Até agora, 40 mulheres fizeram a transposição do útero no Brasil e em outros países. Segundo o Dr. Reitan, aqui, o procedimento ainda é feito por meio de protocolo de pesquisa. Em hospitais autorizados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, o tratamento é gratuito. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica considera esse procedimento um marco.
A maquiadora Carem Rosa foi a primeira paciente submetida à transposição a ter filho. Ela fez o procedimento em 2018, antes de se submeter ao tratamento de câncer no quadril com radioterapia, e, ano passado, já recuperada, veio a surpresa: ela engravidou de forma natural – sem a necessidade de qualquer tratamento. O filho dela, Nicolas, nasceu em janeiro deste ano, em Porto Alegre.
“Eu sempre pensei em ser mãe e construir uma família e quando eu soube que eu não poderia ter essa chance, foi o momento mais difícil para mim. Praticamente abriu um buraco no chão e eu pensei: e agora? Você descobre que o tratamento é a tua cura e, ao mesmo tempo, que daqui a pouquinho vai estragar um órgão teu. Fazer a transposição era uma possibilidade, né? Porque o não eu já tinha. Eu estava na minha recuperação, quando eu vi que a minha menstruação atrasou. Foi uma emoção muito grande. Eu sabia que o meu filho ia vir com saúde, com vida. Quando eu vi ele vindo perfeitinho, eu fiquei muito feliz. Valeu muito a pena”, comemora.
A fisioterapeuta Franciele Boarão foi a primeira mulher a fazer a transposição uterina e também passou pelo tratamento de câncer e se recuperou. Ela quer ser mãe em breve. Hoje, lembra com emoção do dia em que, em 2015, aceitou ser pioneira do método que permitiu Carem engravidar.
“Eu não vou conseguir falar. É gratificante, bem gratificante. Saber que eu dei a chance pra essas mulheres. Começou a fazer sentido tudo, sabe? Então, por isso que hoje eu só tenho gratidão. Muita gratidão por poder ajudar”, emociona-se.
Fonte: G1.Globo