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Risco de ter câncer pode ser 20 vezes maior em ex-fumantes, diz estudo

Um novo estudo mostra que, mesmo anos após abandonar o cigarro, ex-fumantes ainda correm mais risco de desenvolver tumores na cabeça e no pescoço (câncer de boca, garganta e laringe) do que pessoas que nunca fumaram. E esse risco é ainda maior entre aqueles com histórico de abuso do álcool.

A ideia para o estudo, publicado na revista Cancer Epidemiology e assinado por pesquisadores brasileiros, surgiu quando se observou que, mesmo com a diminuição de fumantes no Brasil, casos de câncer continuam surgindo em pessoas que deixaram os cigarros.

“Nos últimos anos, verificamos na clínica um fenômeno interessante. Os pacientes vêm e contam ‘como é que tenho câncer se parei de fumar?’. Então levantamos a hipótese de que parar de fumar tem um efeito positivo, mas a questão é se isso é mantido a longo prazo”, afirma Luiz Kowalski, líder do centro de referência em tumores de cabeça e pescoço do A.C. Camargo e professor titular de cirurgia de cabeça e pescoço da Faculdade de Medicina da USP.

Kowalski, um dos autores do estudo, já participou de outras pesquisas sobre o assunto. Uma delas foi realizada na década de 1990 com aproximadamente mil pacientes. Nela, observou-se que abandonar o cigarro por um período maior de dez anos fazia com que os riscos de ex-fumantes terem câncer fossem semelhantes aos de quem nunca tinha fumado.

Por isso, era de se esperar que, com a diminuição do número de fumantes no país nos últimos anos, houvesse igualmente uma redução desses cânceres nessa população de ex-fumantes, mas não foi bem isso que aconteceu.

“Algumas explicações surgiram, como a ideia de que alguns tumores não estariam associados ao tabaco, e começou-se a descobrir que alguns cânceres estavam associadas ao HPV. Isso explicava, em parte, porque a incidência não caía”, explica Kowalski.

Mesmo com essas explicações, a dúvida de por que a taxa de câncer de cabeça e pescoço não diminuía se mantinha. Então, surgiu a iniciativa de realizar o estudo em que se investigou o impacto que fumar causava a longo prazo.

A pesquisa contou com mais de 200 participantes que tinham sido fumantes e desenvolveram algum dos três tipos de câncer de cabeça e pescoço. Outros 318 compuseram o grupo controle, ou seja, aqueles que tinham hábito de fumar, mas não tiveram diagnóstico de tumor.

“Foi visto que, para câncer de cabeça e pescoço, se o indivíduo fumou um maço de cigarro por dia durante 20 anos, ele tem de 3 a 20 vezes mais riscos de ter câncer do que quem nunca fumou”, afirma o professor.

Esse nível de risco diminui com o passar do tempo, mas ainda se mantém. “Mesmo passando dez anos ainda existe um risco de câncer residual maior do que o esperado”, acrescenta.

Segundo as estimativas do estudo, o risco só começa a diminuir em média 11 anos depois de largar o hábito, fazendo com que haja um alerta de que não é só deixar de fumar, mas também tomar outras medidas.

Uma delas é a moderação no consumo do álcool. “Se existe o hábito de consumir bebidas alcoólicas e fumar cigarro, o risco de desenvolver um câncer de cabeça ou pescoço pode chegar a ser até cem vezes maior”, afirma Kowalski.

O especialista explica que o álcool em si não induz ao câncer, porém facilita que agentes cancerígenos do tabaco penetrem na mucosa, aumentando as chances de surgir um tumor.

Em contrapartida, o estudo averiguou que alguns hábitos de alimentação saudável -como consumo de frutas cítricas e alimentos ricos em vitamina A- auxiliam na redução do impacto negativo do fumo.

Eles, no entanto, não conseguem retardar os malefícios do cigarro. “O tabaco supera todos os efeitos positivos da boa alimentação”, afirma o professor.

Normalmente visto em homens, esses cânceres de cabeça e pescoço começam a passar por uma mudança na prevalência nos últimos anos. Segundo Kowalski, enquanto na década de 1980 havia uma média de oito homens com tumor para uma mulher, agora é em torno de dois a três homens para uma mulher.

A explicação para esse fenômeno ainda precisa ser melhor estudada, porém uma suposição pode ser justamente explicada com o aumento do consumo de álcool e cigarro pelo público feminino.

Outro ponto que precisa ser melhor investigado é se a presença do HPV -que já está associado como fator de risco para alguns cânceres- em combinação com o tabaco aumentaria as chances de desenvolver algum desses tumores.

Mesmo com esses pontos que podem ser explicados em futuras pesquisas, o especialista reitera a maior contribuição do trabalho: “É possível que, quando paramos de fumar, é muito mais uma questão de aumentar o tempo até obter o câncer. Tem o benefício de deixar de fumar, mas o risco de câncer não desaparece completamente”.

 

Fonte: Folha de S. Paulo 

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