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No auge da pandemia, mais de 60% dos serviços de radioterapia tiveram queda de atendimento

Um levantamento com 126 serviços de radioterapia do País apontou que 61% deles tiveram mais de 20% de queda no movimento durante o período crítico da pandemia no Brasil, no mês de maio. Os dados, compilados em junho, são da Sociedade Brasileira de Radioterapia, que demonstra preocupação com o agravamento do câncer em pacientes que tiveram seus tratamentos interrompidos ou adiados, assim como com o aumento da fila causado pelo represamento. Segundo a entidade, 60% das pessoas com a doença fazem o tratamento.

O País conta com 284 serviços de radioterapia e dois Estados não oferecem o tratamento: Acre e Roraima. Há municípios que também não contam com equipamento para radioterapia, de modo que pacientes precisam se deslocar para outras localidades para fazer as sessões. Segundo a Sociedade Brasileira de Radioterapia, a distância média percorrida por um paciente varia entre 33 km (no Estado de São Paulo) a 1.605,5 km, em Roraima.

A necessidade de viajar para outros locais, o que poderia trazer risco de infecção pelo vírus, fez com que alguns médicos recomendassem o adiamento do tratamento – após avaliação do caso do paciente. Outros motivos para a queda foram o medo dos pacientes e a queda no número de novos diagnósticos de câncer, também impactos da pandemia. Os dados da pesquisa foram aprovados para publicação no periódico .

“O Brasil já tem uma carência de infraestrutura muito grande na radioterapia. Metade das máquinas está disponível e a outra está em nível de obsolescência. São 409 equipamentos distribuídos de forma não homogênea. O custo do tratamento é alto, porque é dolarizado, e aumentou ainda mais nesses últimos seis meses. A covid-19 veio para dificultar mais ainda”, avalia o radio-oncologista Arthur Accioly Rosa, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) e diretor de Radioterapia do Grupo Oncoclínicas.

Rosa diz que, em março, a sociedade divulgou um guia para que os serviços adotassem medidas de segurança para evitar a infecção dos pacientes pelo novo coronavírus.

“Como é um tratamento contínuo e implica o uso do equipamento, estabelecemos uma série de cuidados, como a higienização entre um paciente e outro, protocolos de triagem dos pacientes com suspeita, medidas de proteção para a equipe e revisões semanais por telemedicina ou por telefone.”

De acordo com o levantamento, 52% dos serviços tiveram pacientes com covid-19 e 54% registraram casos em funcionários. As condutas adotadas foram interrupção do tratamento e isolamento do paciente e realização da radioterapia no fim do expediente.

Alguns pacientes foram remanejados para outras datas. Em outros, foi usado o hipofracionamento, técnica que reduz o número de sessões a partir da aplicação com frações mais altas de radiação, de forma segura. Com o método, pode ocorrer uma queda de 40 para até cinco sessões, preservando a eficácia do tratamento. Segundo o radio-oncologista, o incremento do uso do hipofracionamento nos serviços públicos e privados foi de quase 80%.

Diagnosticada com câncer de mama em abril do ano passado, a professora aposentada Tânia Maria Oppe Vieira Santana, de 57 anos, fez a cirurgia em dezembro e recebeu a indicação para fazer 18 sessões de radioterapia em março. Por causa da pandemia, o tratamento foi adiado para abril.

Moradora do município de Teófilo Otoni (MG), ela fez o tratamento em Ipatinga e não precisou passar muito tempo longe de casa nem fazer viagens por causa do hipofracionamento.

“No dia que eu comecei, a enfermeira falou que ia diminuir para cinco sessões por causa da pandemia para reduzir o tempo de permanência. Não tive reação, o método me ajudou e foi excelente. Não tive o risco da estrada nem de pegar o vírus.”

Tratamento importante

Rosa destaca a importância da radioterapia para os pacientes com câncer. “É um dos três pilares, junto à cirurgia e à quimioterapia. Quanto mais usada em fase inicial, mais curável ela é. É um tratamento que usa radiação ionizante para incapacitar a replicação celular por meio de equipamentos chamados aceleradores lineares. Estima-se que 60% dos pacientes com câncer vão precisar de radioterapia para aliviar sintomas como dor e sangramento.”

Fonte: Estadão

 

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