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Câncer cerebral em crianças: saiba identificar sinais e sintomas da doença

Em torno de 80% das crianças e adolescentes de 1 a 19 anos diagnosticados com câncer são curados, se a doença for identificada precocemente e tratada de forma adequada. No entanto, a enfermidade representa a primeira causa de morte (8% do total) do público dessa faixa etária no Brasil, de acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer). Segundo a instituição, o câncer em crianças se diferencia por afetar as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação, enquanto em adultos acomete as do epitélio, que estão presentes em diferentes órgãos.

Outra diferença é que a doença na infância não está associada a fatores de risco ambiental ou relacionada ao estilo de vida, como tabagismo ou consumo exagerado de álcool. Mas a alterações no DNA das células, que sofrem uma mutação no material genético e permanecem com as características embrionárias. Tais alterações podem ser herdadas dos pais, mas são raras as mutações transferidas pela carga genética vinda do espermatozoide ou do óvulo. Os casos hereditários representam uma pequena parcela das incidências de câncer pediátrico, aproximadamente 10%.

Sinais comportamentais e físicos

No caso do câncer cerebral, o segundo tipo mais comum em crianças, a causa é o crescimento anormal de células dentro do crânio, o que provoca compressão e lesões nas células normais. A detecção pode ser feita por meio de exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos. Além disso, mudanças repentinas de comportamento podem indicar a presença de um tumor na infância.

“Existe um sistema complexo de estruturas e vias neuronais localizado no centro do nosso cérebro chamado límbico. Se existe a formação de um tecido tumoral, alterações comportamentais podem ser observadas, tais como depressão, risos descontrolados, alterações de humor e crises convulsivas”, afirma Ricardo Santos de Oliveira, neurocirurgião pediátrico da Divisão de Neurocirurgia do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).

Outros indicativos de câncer cerebral, segundo o especialista, são dores de cabeça, náuseas, vômitos, visão turva ou dupla, tontura, alteração do nível de consciência e problema para caminhar ou manipular objetos. Esses sintomas apontam a possível localização do tumor.

“Lesões crescendo na região das vias ópticas levarão ao aparecimento de dificuldade visual. Em área motora, problemas de movimentação de uma parte do corpo, e da fala, no entendimento ou pronúncia”, explica o neurocirurgião.

Já Renata Barra, oncologista pediátrica da Pró-Saúde, com atuação no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, em Belém (PA), afirma que a hidrocefalia também gera tais sintomas.

“Vamos pensar que o nosso cérebro seja uma caixa fechada. Se temos algo dentro dela que começa a ocupar espaço, isso vai comprimir e fazer pressão, comprometendo o trabalho do líquido cefalorraquiano que circula entre a cabeça e a espinha vertical.”

Tipos mais comuns

Os tumores cerebrais na infância geralmente se desenvolvem no sistema nervoso central, cujo órgão mais importante é o cérebro. Os três tipos mais diagnosticados na população pediátrica são meduloblastoma e astrocitoma, que se originam no cerebelo, responsável por controlar o movimento, o contrapeso e a postura, e ependimoma, que se inicia nas células dos ventrículos cerebrais e prejudica a memória, a aprendizagem, os sentidos e a medula espinhal.

Independentemente do tipo, o Brasil registra alta incidência da doença na população pediátrica, quando comparado a outros países. O projeto Globocan, desenvolvido pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês), estimou que em 2020 o Brasil concentrou 49% dos casos registrados na América do Sul de câncer no cérebro e no sistema nervoso central em crianças de até 14 anos. Além de 52,6% das mortes.

Definição do tratamento

A partir do diagnóstico, os procedimentos de tratamento são definidos a depender das alterações típicas no DNA da célula do tumor. Presidente da Sobope (Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica), Neviçolino Carvalho lista outros fatores que determinam a escolha da terapia. “Depende da idade, do tipo histológico do tumor, das alterações moleculares e genéticas e se há síndromes genéticas de predisposição associadas.”

Ele alerta que a criança deve ser cuidadosamente avaliada em um serviço capaz de oferecer todos os recursos, para então definir a melhor estratégia de tratamento.

Entre as terapias disponíveis estão desde a não intervenção com acompanhamento clínico e radiológico até quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e neurocirurgia. Também existe a opção pela medicina de precisão, que se baseia em técnicas de análise molecular para identificar as alterações genéticas do tumor.

Segundo Carvalho, tumores pediátricos tendem a responder melhor aos efeitos da quimioterapia. Por consequência, as chances de cura são maiores em relação aos adultos, devido à idade avançada e possíveis comorbidades que podem impedir o uso de alguma medicação no combate ao câncer. Assim, o diagnóstico precoce ganha ainda mais importância.

Efeitos tardios

Apesar de os tumores diagnosticados na infância serem mais responsivos ao tratamento, por outro lado a criança é mais suscetível a efeitos colaterais agudos, como náusea, reações alérgicas ou intolerâncias às medicações, informa Carlos Eduardo Ramos Fernandes, oncologista pediátrico do A.C. Camargo Cancer Center (SP).

Ele acrescenta que a população infantil também é mais vulnerável a infecções em períodos de baixa imunidade durante a terapia, pois o sistema imunológico ainda está em desenvolvimento.

“A grande preocupação se dá em torno dos efeitos a médio ou longo prazo, chamados de tardios, pois a expectativa é que a criança, após atingir a cura ou a remissão da doença, possa viver por décadas. E reduzir os riscos de problemas cardíacos relacionados ao tratamento, ou mesmo de desenvolver uma segunda neoplasia, é fundamental na decisão da terapia”, esclarece Fernandes.

Outros possíveis efeitos tardios são problemas pulmonares, de aprendizagem e os relacionados à fertilidade, além de danos no desenvolvimento dos ossos. Mas por que as crianças podem sofrer tais sequelas na vida adulta? Além de o organismo estar em formação, os medicamentos e procedimentos aplicados no tratamento geram implicações.

“Alguns quimioterápicos podem induzir outras mutações nas células, facilitando o aparecimento de um segundo tumor ao longo da vida da criança. Situação semelhante relacionada à radioterapia”, afirma o oncologista do A.C. Camargo.

Além disso, “cirurgias muitas vezes precisam ser agressivas, retirando margens livres de tumor para evitar sua recaída, gerando mudanças na anatomia do corpo, estética e no funcionamento de órgãos”, diz ele.

Portanto, vale se precaver. Os pais das crianças devem manter um rigoroso controle após o tratamento oncológico, com acompanhamento médico regular e multidisciplinar para a detecção precoce tanto de um segundo tumor como de um efeito tardio.

 

Fonte: Uol

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