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Medicina Personalizada na América Latina foi tema do Diálogos em Oncologia

Especialistas falaram sobre importância dos testes genéticos e das terapias alvo durante a quarta edição do evento

No dia 25 de outubro aconteceu a quarta edição do Diálogos em Oncologia, projeto do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer que objetiva manter a atenção oncológica em pauta. Pela primeira vez, com o apoio da Rede Alianza Latina, o evento foi transmitido para toda a América Latina e trouxe como tema central a Medicina Personalizada.

Também chamada de Medicina de Precisão, a Medicina Personalizada busca oferecer a possibilidade de descobrir, por meio dos testes genéticos, o desenvolvimento de um câncer antes mesmo dele acontecer, além de também garantir um tratamento mais assertivo, que combata diretamente o alvo causador de determina neoplasia.

De acordo com o Dr. Rodrigo Guindalini, oncologista clínico e oncogeneticista da Oncologia D´or, hoje os especialistas não conseguem mais trabalhar sem esta tecnologia ao seu lado.

É impossível, hoje, fazer um tratamento do câncer de pulmão sem fazer uma avaliação dos biomarcadores moleculares. Precisamos entender qual a alteração genética presente, para então oferecermos um tratamento personalizado aos pacientes. O rastreamento do câncer de mama, por exemplo, precisa ter estratégias diferenciadas. As pacientes que têm maior probabilidade de desenvolver este tipo da doença não podem fazer apenas mamografia. Em alguns casos, os exames devem começar a partir dos 25 anos de idade. Em muitos casos, é possível administrar medicamentos para evitar que o câncer se desenvolva. Ou até mesmo fazermos a retirada das mamas ou ovários”, comentou.

Ele explicou que alguns tipos de câncer são hereditários (5% a 10% advindos do pai ou da mãe), o que torna maiores as chances do(a) filho(a) desenvolver a doença também

Um caso que ficou muito conhecido foi o da atriz Angelina Jolie, que descobriu, ao fazer um teste genético, ter um risco aumentado para o câncer de mama BRCA1/2, por conta do diagnóstico de sua mãe. Agora, nem sempre as pessoas precisam realizar um teste genético para fazer a estratificação de risco. Hoje em dia, o teste é indicado para pessoas que têm muitos históricos familiares. Porém, se fizéssemos a estratificação genética em toda a população, conseguiríamos trabalhar melhor o financiamento em saúde pública e também oferecer melhores resultados clínicos aos pacientes”, disse o Dr. Rodrigo.

O tratamento também é parte importante da Medicina Personalizada, já que ele é ainda mais efetivo quando atinge apenas a alteração genética (terapia alvo) e causa menos efeitos colaterais aos pacientes.

Há algumas décadas descobrimos que o câncer é uma doença genômica, ou seja, um acúmulo de alterações genéticas que formam um tumor. Via de regra, essas alterações acontecem ao longo de muitos anos. E a Medicina de Precisão traz uma oportunidade de atuarmos no começo das alterações. Ou seja, no início do câncer, trazendo melhores resultados. Hoje, temos as terapias-alvo sem biomarcadores específicos, quando não precisa de um exame específico para usá-la. Enquanto outras terapias-alvo vão precisar de avaliação do biomarcador. É o caso da leucemia mieloide crônica, por exemplo. O anticorpo biespecífico vem sendo estudado para diversos tipos de tumores. Ele tem duas partes, uma específica para o tumor e outra específica para o sistema imune (linfócitos T). Assim, o sistema imune do próprio paciente pode atacar as células cancerígenas. O cenário para o futuro do tratamento do câncer é bastante promissor”, contou o Dr. Paulo Campregher, hematologista e patologista clínico, responsável pelos testes de genômica do câncer do laboratório de medicina diagnóstica Albert.

O especialista também destacou que, atualmente, o mieloma múltiplo (MM) é um grande exemplo de sucesso no campo das terapias-alvo.

Hoje temos medicamentos muito eficazes, como os anticorpos monoclonais, anticorpos biespecíficos, CAR-T cell, imunoduladores. O quadro geral é muito positivo. Conseguimos encontrar as ferramentas para entender as doenças e gerar tratamentos”, disse.

Por falar em mieloma múltiplo, também esteve na mesa Marli Panão, paciente de MM, publicitária, integrante do Comitê de Pacientes Abrale. Ela contou que, ao receber o diagnóstico, levou um susto.

Sempre fui muito preocupada com a minha saúde. No meio de uma simples consulta pedi alguns exames para o check up semestral. Ao voltar para saber os resultados, tive uma surpresa quando o reumatologista me disse que eu tinha uma gamopatia na minha eletroforese. Isso em 2015. Decidi olhar os exames mais antigos e notei que essa alteração já aparecia e nenhum outro médico tinha notado. Levei um susto. Em 2017, tive um diagnóstico que não foi muito correto. Ainda não tinha um mielograma e mesmo assim a médica já queria iniciar a quimioterapia. Mas decidi procurar por uma segunda opinião médica. E aí, feito o mielograma, o especialista me disse que ainda não precisava tratar. Até junho de 2019, fiquei só em acompanhamento, até chegar o momento de iniciar a quimio. Agora, se naquela época eu soubesse que existia a Medicina Personalizada, e que poderia ter me mostrado que eu teria mieloma, com certeza eu faria. Eu sairia na frente”.

Medicina Personalizada na América Latina

Os desafios estão presentes nos sistemas de saúde de diversos países latino-americanos, segundo Dr. André Medici, mestre em Economia, doutor em história econômica e economista de saúde sênior do Banco Mundial.

Hoje, para que o acesso à Medicina Personalizada na América Latina aconteça de maneira adequada, é preciso melhorar a equidade no acesso à saúde geral, em especial na promoção, prevenção e tratamento de doenças crônicas; aumentar o uso da inteligência artificial nos serviços de saúde, o acesso à internet, telemedicina e educação digital; aumentar a quantidade de médicos especialistas e profissionais de saúde; aumentar o financiamento para a Medicina Personalizada; melhorar a integração entre os setores públicos e privados de saúde para favorecer a colaboração e a continuidade da atenção médica. É preciso entender que este tipo de Medicina pode economizar recursos, como por exemplo, ao identificar que nem todos os casos precisarão de tratamentos”, pontuou.

Acesso X Inovações

Embora a Medicina Personalizada seja uma importante aliada no pré-diagnóstico, diagnóstico e tratamento do câncer, ainda não é uma realidade para todos os pacientes. E não só por questões financeiras, mas também pela falta de conhecimento da população. É o que reforçou Melissa Pereira, gerente de Apoio ao Paciente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale).

Primeiro é importante o paciente ter informação. A Medicina Personalizada ainda não é um tema muito difundido, em especial na Onco-Hematologia. Temos muitos desafios que envolvem os tratamentos personalizados, os testes genéticos. Hoje, os pacientes têm dificuldade para fazer exames simples. Também precisamos falar sobre os custos. Os testes genéticos não são baratos, assim como as terapias-alvo”.

Dr. Rodrigo finalizou fazendo uma analogia com a pandemia da COVID-19, época em que os laboratórios públicos, que servem ao Sistema Público de Saúde (SUS), não tinham a capacidade de realizar o diagnóstico molecular por conta dos altos números de casos.

Por conta do alto volume, novas máquinas chegaram, equipes foram treinadas, novos contratos de insumos foram assinados. Portanto, hoje, os laboratórios estão bem equipados e com toda a logística muito bem implementada. E isso abre uma janela de possibilidade que essas máquinas, que trabalhavam a genômica do coronavírus, podem passar a ser utilizadas para outras áreas da medicina, como a Oncologia. Não podemos deixar acontecer o que aconteceu com nossos estádios de futebol. Temos que usá-las e assim promover um melhor atendimento aos nossos pacientes”.

 

Fonte: Comunicação Abrale

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