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Pesquisadores franceses desenvolvem programa que prevê risco de reaparecimento de câncer em pacientes

Como saber se um tratamento preventivo pesado contra o câncer é realmente necessário? Em Dijon, no leste da França, uma equipe de pesquisadores desenvolveu um programa gratuito que pode funcionar em um simples computador e permite prever o risco de recaída de cada paciente.

Como saber se um tratamento preventivo pesado contra o câncer é realmente necessário? Em Dijon, no leste da França, uma equipe de pesquisadores desenvolveu um programa gratuito que pode funcionar em um simples computador e permite prever o risco de recaída de cada paciente.

Para pacientes com câncer, uma vez extraído o tumor, começa outro combate: evitar o ressurgimento da doença e esperar cinco anos, período depois do qual pode-se falar em cura.

Atualmente, a única solução para evitar a recorrência consiste em administrar a quase todos os pacientes o tratamento quimioterápico preventivo, que tem efeitos colaterais muito debilitantes. Além disso, para muitas pessoas a terapia é supérflua, porque não corriam riscos de recidiva. Mas como saber quem pode voltar a ter um câncer?

É o que parecem ter descoberto os pesquisadores do Centro de luta contra o câncer Georges François Leclerc de Dijon (CGFL). “Queríamos desenvolver uma ferramenta informática automática e gratuita que permitisse saber quem pode recair”, explica Valentin Derangère, pesquisador do CGFL.

Para isso, a equipe, que faz parte do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa médica da França (Inserm), utilizou o QuPath, um programa “open-source” (acessível gratuitamente e que pode ser modificado por todos) que pode ler “placas”, as lâminas de vidro que cobrem as amostras para observação no microscópio.

Mas ainda era necessário que o programa interpretasse o que lia. “Ensinamos a ele a localizar os tecidos, saudáveis ou não, depois procurar correspondências para estabelecer um diagnóstico”, explica Derangère. Para isso, os pesquisadores montaram uma biblioteca de tecidos provenientes de 80 pacientes com câncer do intestino. Ela foi constituída por 35.000 “azulejos” (ou segmentos), cada um colorido segundo o tipo de tecido: vermelho para tumor, violeta para células imunitárias, laranja para tecidos saudáveis, etc.

O enorme trabalho permitiu estabelecer um modelo de placas coloridas que, quando digitalizadas se transformaram em imagens com as quais “alimentamos o programa”, que é capaz de estabelecer o prognóstico, explica Derangère.

85% de fiabilidade

Graças ao programa, “sabemos quem corre risco de reincidência em um período de cinco anos”, afirma o professor François Ghiringhelli, diretor da unidade do Inserm que conduz as pesquisas no CGFL.

“Isso permite isolar o pequeno grupo de doentes que tem uma possibilidade sobre duas de recair. Dessa maneira, logo após a cirurgia, sabemos que será necessário administrar uma quimioterapia mais pesada a estas pessoas. Por outro lado, determinamos os doentes, aproximadamente 15%, que têm um prognóstico muito bom e que não necessitariam tratamento após a ablação do tumor.”

Este poderia ser o fim da administração da quimioterapia às cegas a todos os pacientes. “Sabemos quais pacientes precisam e quais não.”

O programa, totalmente gratuito, pode ser utilizado “em um computador ou em um notebook”, diz Caroline Truntzer, engenheira de pesquisa em bioinformática no CGFL.

Para testar a fiabilidade do programa, um estudo feito a partir de lâminas estabelecidas há cinco anos em um grupo de 1.200 pacientes foi realizado. O prognóstico resultante foi comparado à realidade. “Nossa taxa de fiabilidade foi de 85%”, diz Derangère.

A invenção funciona, por enquanto, apenas com o câncer de intestino, mas ela poderá ser ampliada a outros tipos, como o de mama, utilizando “um programa mais pesado”.

Pesquisas similares são realizadas na Alemanha e no Reino Unido. Na França, a equipe de Jérôme Galon do Inserm Transfert, filial privada do Inserm, desenvolveu Immunoscore, um teste que também permite predizer os riscos de recidiva. Mas é um produto comercial e que “considera somente o sistema imunitário”, explica o professor Ghiringhelli. “Nós queríamos acrescentar o sistema celular e de tecidos, para refinar o prognóstico.”

O programa ainda precisa de uma licença para funcionar no mercado que deve ser obtida em um ou dois anos, segundo Ghiringhelli, após novos testes. Mas, para seus criadores, ele já é a prova de que a inteligência artificial vai revolucionar completamente a medicina: o computador vai validar os diagnósticos do médico.

 

Fonte: UOL

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