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Estudo traz resultados promissores no tratamento de câncer raro, o urotelial

Em pesquisa nos EUA, cientistas desenvolvem técnica que preserva rim dos pacientes; em geral, órgão é retirado para prevenir expansão da doença

O câncer urotelial do trato superior, que atinge o revestimento interno do rim, ureter ou bexiga, é um tipo raro, com limitações de tratamento. Na maioria dos casos, a regra é a retirada total do rim, prejudicando a qualidade de vida dos pacientes e as chances de sucesso em uma possível quimioterapia. Neste mês, pesquisadores no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, trouxeram esperança ao divulgar evidências promissoras de uma nova terapia eficaz e capaz de manter o órgão, levando menos toxicidade ao organismo em uma ou duas sessões.

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Na fase 1 de testes com a Terapia Fotodinâmica com Alvo Vascular (VTP, na sigla em inglês), em 64% dos casos o tumor não foi detectado após 30 dias e apenas em 29% foi preciso fazer uma segunda sessão. Dos que fizeram a segunda sessão, 67% tiveram a remissão completa do tumor. Após 11 meses, 93% dos pacientes mantiveram o rim que tinha sido afetado pelo câncer e a função renal não foi significativamente afetada.

Agora, os pesquisadores vão para a fase 3, com mais pacientes e com a participação de 20 centros localizados nos EUA, Europa e Israel. Se os resultados se mantiverem, como é esperado, em aproximadamente três anos a terapia poderá estar disponível.

Na terapia é utilizada uma substância derivada da clorofila, responsável pela liberação de energia das plantas. Essa substância, nos testes, é ativada por uma luz específica quando está na área do corpo atingida pelo tumor. Isso provoca uma reação química dentro dos vasos sanguíneos na área iluminada que leva a obstrução e oclusão desses vasos.

– Consequentemente, não chega mais sangue e oxigênio naquela área e ela morre, necrosa, desaparecendo em até 30 dias – explica o urologista brasileiro Lucas Nogueira, um dos pesquisadores à frente do estudo.

Diferentemente das outras terapias existentes para tratar esse tipo de tumor, a proposta pelos cientistas tem pouca toxicidade e atinge apenas a área onde está o tumor. Minimamente invasiva, a terapia utiliza o mesmo aparelho feito para quebrar cálculos renais. A sessão dura cerca de 20 minutos e o paciente segue para casa.

Esperança no tratamento

Segundo Nogueira, o tumor urotelial, que atinge, nos EUA, de 6 mil a 8 mil casos por ano, é de difícil diagnóstico. Quando se identifica, em grande parte dos casos, já está avançado, e o tratamento mais comum é a retirada total do rim para prevenir que a doença se espalhe para outros órgãos, mesmo em tumores menores.

Há, de acordo com ele, alguns tratamentos endoscópicos disponíveis, mas com taxas altas de volta do câncer, em torno de 60%, e que utilizam laser, que atinge outras partes do rim além do tumor.

– Existe a necessidade de tratar esses pacientes preservando o rim, que é muito importante para evitar doenças cardiovasculares e para ajudar se for preciso fazer quimioterapia depois, que precisa do órgão funcionando perfeitamente para ser efetiva – diz o urologista.

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A oncologista Mariane Fontes reforça que a retirada do rim ou do ureter como forma de tratamento é uma cirurgia ‘extremamente agressiva’ e que terapias em que se retira apenas um pedaço do órgão ou tecido para preservar o rim acabam sendo uma ‘conduta de exceção’.

– Hoje há várias formas de tentar preservar o rim, mas ainda não é a regra – afirma a especialista em uro-oncologia do Grupo Oncoclínicas, que comenta o estudo: – Os resultados do estudo são os primeiros indícios, mediram a segurança do procedimento. É uma técnica potencialmente interessante para instituir como tratamento, mas ainda é uma técnica experimental.

A médica reitera a importância da pesquisa nessa área, mesmo que o tumor urotelial seja raro:

– É um câncer raro, mas que não pode ser negligenciável, porque potencialmente pode se tornar metastático, extremamente agressivo e o paciente pode falecer. Então, poder oferecer novos tratamentos é de extrema importância. Em geral, são estudos difíceis de serem feitos, mas o esforço é necessário para não se tornar negligenciado e continuarmos tratando aquela doença da mesma forma por anos, sem qualquer avanço – observa Mariane Fontes, oncologista e especialista em uro-oncologia do Grupo Oncoclínicas.

Fonte: O Globo 

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