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Câncer deve aumentar 67% na América Latina até 2030

Relatório aponta que, somente em 2020, mais de 1,7 milhão de pessoas desenvolverão câncer na região Incidência é menor que a média global, mas número relativo de mortes é quase o dobro dos EUA e de outros países desenvolvidos Estudo aborda Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, México, Panamá e Peru. Seis ainda são carentes de acesso a tratamento, em especial à radioterapia

Embora a América Latina tenha tido progressos importantes nos últimos anos no tratamento de câncer, a região ainda sofre com acesso insuficiente em prevenção e assistência. Com o objetivo de conscientizar e incentivar a discussão, o estudo independente da The Economist Intelligence Unit (EIU) “A tomada de decisão para a assistência oncológica: uma análise da prática atual e das oportunidades para melhoria na América Latina”, viabilizado pela empresa Varian Medical Systems, traz alguns alertas e revela que os sistemas de saúde não estão preparados para atender a demanda crescente da região.

Entre outros dados, o levantamento aponta que até 2030 o câncer será responsável pela morte de um milhão de pessoas por ano. “Um dos aspectos mais preocupantes é o fato do índice de mortalidade na América Latina (42% no Brasil e 61% na Bolívia) ser praticamente o dobro do de países desenvolvidos(média global de 23%) devido à falta de acesso a tratamentos adequados e diagnóstico precoce. Precisamos trabalhar juntos para mudar essa realidade. Por meio do estudo, é possível entender o problema de forma mais aprofundada. Trata-se de uma oportunidade de examinar e entender como superar essas barreiras. O estudo proporciona uma reavaliação na abordagem da assistência oncológica uma vez que toda a América Latina apresenta um espaço significativo para aprimorar o acesso ao tratamento de câncer”, explica Humberto Izidoro, presidente da Varian Medical Systems, líder global no desenvolvimento e fornecimento de soluções multidisciplinares e integradas para o tratamento do câncer, para América Latina.

Incidência versus prevenção, diagnóstico e tratamento

Na América Central e América do Sul, os quatro tipos de câncer mais frequentes entre os homens são próstata (27,6%), pulmão (9,6%), colorretal (8,0%) e estômago (7,1%). Entre as mulheres, o tipo mais comum é o de mama (27,0%), seguido pelo cervical (12,3%), colorretal (7,7%) e pulmão (5,5%).

O relatório aponta que o número de casos é apenas parte da preocupação. Embora a incidência da doença na região seja inferior à média global, possivelmente devido ao subdiagnóstico, o envelhecimento é o principal fator de risco dadas as tendências demográficas de longo prazo. Além disso, certos tipos de tumores associados à higiene, à falta de prevenção primária e ao acesso a vacinas, como o HPV, são mais comuns em economias de baixa renda.

Nesse sentido, a maior preocupação é a qualidade do atendimento recebido. O diagnóstico tardio associado ao difícil acesso a tratamentos de qualidade estão diretamente relacionados à uma maior taxa de mortalidade, quase o dobro dos EUA.

Em muitos países há uma demora entre nove e 12 meses para se ter acesso à mamografia ou Papanicolau, aumentando drasticamente o risco de detecção tardia de tumores de crescimento rápido. Barreiras sociais e culturais, incluindo medo e estigma, também impedem parcialmente a realização de exames e o diagnóstico rápido. As mulheres podem sentir-se constrangidas ou preocupadas com procedimentos relativos aos cânceres femininos.1

A falta de conscientização é outro fator. Na Bolívia, exames estão disponíveis gratuitamente, porém, sua assimilação é baixa devido à falta de conscientização. O teste de Papanicolau é realizado em 20-22% de pacientes, comparado com 42% em outros países na América Latina.2 Muitas mulheres que passam por exames não são informadas proativamente sobre os resultados. E por vezes, quando informadas, encontram dificuldades para começar o tratamento mais adequado.

Custos e tratamentos

O câncer cria um desafio de saúde urgente na região e traz custos econômicos significativos para pacientes, famílias e sistemas de saúde pública. Em 2009, os custos diretos e indiretos totais de novos casos foram de aproximadamente US$ 489 milhões na Argentina, US$ 1,3 bilhão no México e US$ 1,6 bilhão no Brasil.

A radioterapia consiste em um tipo de tratamento seguro e e?caz que utiliza radiações ionizantes para dani?car o DNA das células cancerosas, causando destruição ou impedindo crescimento. Avanços recentes permitem que os equipamentos de radioterapia concentrem os feixes de radiação com mais precisão, proporcionando um tratamento mais e?caz e menores efeitos colaterais. “A falta de acesso potencializa o aumento da mortalidade por câncer em toda a região. Dois a cada três pacientes com câncer irão precisar da radioterapia em algum momento – seja de forma curativa ou paliativa. O ganho médio de sobrevida é de 40%”, segundo manifesto de valorização da radioterapia do Observatório da Oncologia.

Apesar da radioterapia ser um tratamento disponível há décadas, ultimamente apresentou importantes inovações como parte do crescimento da medicina de precisão.3 Ao proporcionar uma radiação em dosagem maior e mais precisamente dirigida apenas na região de interesse, a radioterapia com alta tecnologia ataca tumores mais agressivamente e ainda menor dano aos tecidos sadios próximos. As estimativas sugerem que, nos oito países incluídos no estudo, a maioria possui apenas de 50% a 75% da cobertura necessária para os pacientes, dos quais mais da metade necessitam de radioterapia.

De acordo com o relatório, a disponibilidade desse tratamento é bastante variável na América Latina, com seis países apresentando carência de recursos.4 Em alguns, a escassez de equipamentos – e não de capacidade humana – é o problema. Isso acontece na Bolívia, onde há uma enorme falta de equipamentos e recursos. No Brasil, apesar de aproximadamente 64% dos pacientes necessitarem desse tratamento, dados recentes sugerem que os gastos com radioterapia no país são cerca de nove vezes inferiores aos da quimioterapia e o acesso ainda está diminuindo.

Mesmo em países com acesso adequado, a qualidade dos tratamentos não é a mais apropriada, com máquinas e técnicas obsoletas incluindo equipamentos com mais de 40 anos de uso, resultando em piores resultados do que as mais recentes.5 Segundo o médico Arthur Rosa, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, aproximadamente 50% das máquinas do sistema público de saúde do Brasil serão consideradas obsoletas até 2021.

A falta de dados adequados é outro problema crônico. Há poucas informações sobre a condição do equipamento e dos recursos humanos associados ao seu uso, dificultando a capacidade dos decisores de entender a verdadeira dimensão do problema. A Agência Internacional de Energia Atômica mantém um banco de dados conhecido como Diretório de Centros de Radioterapia (DIRAC), que depende do preenchimento voluntário dos usuários e frequentemente apresentam dados incompletos sobre a disponibilidade dos equipamentos.

Em relação a quimioterapia na América Latina, a acessibilidade varia em relação aos diferentes tratamentos. A quimioterapia está disponível nos sistemas de saúde pública em todos os países incluídos no estudo6, exceto no Peru. Contudo, há uma ampla variação no acesso, em especial dentre tratamentos de alto custo. Isto se deve em parte à falta de evidência e de participação do paciente em pesquisa e tomada de decisão.7

Covid-19 e os impactos futuros

A maior pandemia do século evidenciou fragilidades dos sistemas de saúde ao redor do mundo e escancarou a necessidade de investir em infraestrutura. “O termo ‘colapso’ foi utilizado para descrever a falência dos sistemas que foram colocados a prova. Isso nos traz preocupações gigantescas com as projeções para o futuro da oncologia“, comenta Ligia Pimentel, Diretora de Assuntos Governamentais da Varian. “O tratamento do câncer é complexo, as necessidades são distintas e a infraestrutura é multidisciplinar. É preciso planejar e investir para estarmos preparados para o aumento de casos que é inevitável. O câncer tem que ser prioridade nas pautas do governo”, conclui.

“É preciso investimentos em registros de câncer e de pacientes, em campanhas de prevenção, em programas de triagem permanentes, bem como guias de protocolos de tratamentos específicos, dentre outros”, recomenda Ligia.

Fonte: Varian Medical Systems

Agência o Globo 

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