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Roda de Conversa Sobre Câncer de Mama

No dia 29 de setembro de 2022, representantes de organizações da sociedade civil, profissionais da saúde e pacientes com câncer participaram da Roda de Conversa Sobre Câncer de Mama, um diálogo colaborativo para discutir caminhos que objetivam o melhor acolhimento e atenção oncológica aos pacientes, com foco no bem-estar como um todo, e não só na doença. Os participantes debateram sobre os impasses na realização da mamografia, disparidades regionais, apoio psicológico para melhor aderência ao tratamento, o papel das empresas privadas e políticas públicas de educação permanente. O evento foi sediado em São Paulo, durante o 9º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, com patrocínio da Pint Pharma.

Os participantes ressaltaram que ainda é preciso ir muito além do Outubro Rosa, quando se trata de ações de prevenção e diagnóstico precoce, já que estes temas devem ser pautados durante todo o ano, de forma constante. 

Dados do Panorama da FEMAMA de 2021, apresentados por Erica Ana Hobold, coordenadora administrativa da organização, mostraram o declínio no número de coberturas mamográficas no Brasil desde o início da pandemia.  Hobold destacou que, em 2020, houve uma redução de 40% na realização do exame de diagnóstico, chegando a 27% de cobertura nacional e apenas 17% em 2021. Distrito Federal, Roraima e Tocantins são as regiões com os piores níveis de cobertura. 

Talita Souza, Enfermeira Navegadora de Belo Horizonte, pontuou que entre as dificuldades está a solicitação da mamografia pelo Sistema de Informação do Câncer (SISCAN), que só é possível com pedido médico, apesar dos protocolos clínicos já preverem a realização do exame para mulheres entre 50 a 69 anos. O cirurgião oncológico Bruno Marcelino relatou que já precisou pausar os atendimentos do dia para fazer pedidos do SISCAN, sendo que já está previsto nos protocolos o direito à mamografia na faixa preconizada. Talita sugeriu que é possível pensar no melhor acesso ao exame, ao definir políticas públicas como os cartões de vacina, para que as mulheres não necessitem de pedido médico. 

Maira Caleffi, presidente da FEMAMA, frisou que muitas mulheres ainda desconhecem como realizar o pedido do exame e defendeu a desburocratização do processo pelo SISCAN, com ordem nacional pelo Conass e Conasems.

Precisamos de, no mínimo, 60% de cobertura para redução da mortalidade por câncer de mama”, pontuou Caleffi.

Disparidades regionais

Outro dado alarmante presente no estudo da FEMAMA é que 32% das pacientes tiveram que fazer o exame de diagnóstico fora do município em que residem. Marcelo Luiz Pedroso, presidente da Ação Solidária às Pessoas com Câncer de Belo Horizonte, comentou que a cobertura mamográfica é disparatada, com concentração em estados maiores, e a desestruturação dos municípios para atender a demand, tende a resultar no deslocamento de tantas mulheres para outros estados.

Sobre a gestão pública, Daniele Castelo Branco, gestora da Associação Nossa Casa de Apoio a Pessoas com Câncer, ressaltou que muitos municípios pactuam uma quantidade de mamografias menor que a necessidade da população. Há uma preocupação com a falta de mamógrafo, mas nem sempre os poucos exames realizados são garantidos em qualidade. Já Sandra Gioia, diretora do Centro de Mamas no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, apontou que em alguns casos o mamógrafo pode estar na esquina, porém a regulação faz a saída do paciente da cidade por falta de coordenação do cuidado. Defendeu a importância da navegação do paciente, com profissionais e usuários do sistema de saúde bem informados.

Saúde do Trabalho

Ainda sobre deslocamento, Carine Cidade, especialista em carreira e liderança, comentou a respeito do medo que muitas mulheres têm de perder seus empregos ao irem no horário do expediente para realizar o exame preventivo e que ainda é preciso preparar melhor as empresas para promover a saúde dos seus profissionais com seriedade. “Não é só colocar um lacinho rosa”. Ainda mais se considerarmos que “as empresas ganham com a prevenção do paciente, já que irá onerá-las menos no futuro” disse Cidade.

Talita Souza compartilhou sua experiência em um projeto com mais de 350 mulheres em empresas, e contou sobre a incompatibilidade do horário de atendimento do programa da saúde da família com a jornada de trabalho dessas mulheres e que há uma falta de comunicação entre os empresários e os gestores do SUS. Também ressaltou a iniciativa do Programa Estadual de Câncer de Mama em Minas Gerais, que categoriza por uma escala de cores o tempo de realização dos exames de mamografia para facilitar a triagem e identificação imediata com a condição da paciente. Sobre o estímulo às mulheres para realizar a mamografia, foi levantado por ela, o uso da influência de grupos religiosos para promover o autocuidado.

Saúde Mental

Para Caio Vianna, da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, maior adesão ao tratamento significa um melhor desfecho. Ele frisou que o câncer de mama gera uma grande perda social na população e que é preciso olhar para esses fatores a partir das singularidades de cada paciente. Às vezes o medo em fazer a mamografia está justamente em descobrir o diagnóstico para o câncer e, as que recebem, acreditam que não conseguirão ter qualidade de vida. “A mulher não precisa dar uma pausa para continuar o tratamento, é preciso desmitificar”. Caio exemplificou o receio que pacientes têm de perguntar para os profissionais de saúde como se dará a sua relação sexual durante o tratamento e, para além da humanização dos profissionais e capacitação, Vianna também destacou a ausência de psicólogos nos centros de cuidado para que as pacientes consigam aderir melhor o tratamento e enfrentar todo o processo.

Educação permanente

Marjorie Vannucci ressaltou que precisamos olhar para as legislações de educação permanente, como a PORTARIA N° 3.194, DE 28 DE NOVEMBRO DE 2017, importante instrumento de mudança social dentro do SUS, para educar e orientar os profissionais de saúde, gestores públicos, pacientes e autarquias como o CONASEMS, com o objetio de solucionar as problemáticas desde a atenção primária à especializada. Este tema instigou os participantes a voltar a atenção ao câncer no ambiente escolar, para que seja o canal para prevenção e promoção de saúde desde a primeira infância. 

Rita Valle questionou os processos de licitação e ruídos para boicotar a mamografia para menos de 40 anos.

 

Fonte: Comunicação Movimento TJCC

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