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Homens negros têm mais riscos de morrer de câncer de próstata que os brancos

Novembro é o mês da Consciência Negra e também da campanha de prevenção ao câncer de próstata. No Brasil, segundo a estimativa do INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), órgão de pesquisa ligado ao Ministério da Saúde, serão diagnosticados 65.840 casos novos da doença para cada ano do triênio 2020-2022.

Esse dado corresponde a um risco estimado de 62,95 casos novos a cada 100 mil homens brasileiros. No mundo, a taxa é de 33,1 casos para cada grupo de 100 mil homens.

Segundo pesquisa do oncologista André Deeke Sasse, membro da Asco (Sociedade Americana de Oncologia Clínica), o risco de um homem negro morrer vítima do câncer de próstata é o dobro do que o de um homem branco. Não existem diferenças biológicas entre eles, o problema são as desigualdades sociais e os tabus.

“Dados mais recentes sugerem que homens negros aparentemente não são portadores de doenças biologicamente e intrinsecamente mais agressivas. No entanto, fazem menos exames de rastreamento como PSA, e mais frequentemente fazem diagnósticos mais tardios, em estádios mais avançados. Homens negros também têm mais dificuldade de conseguir manter hábitos saudáveis de vida, como alimentação balanceada e atividades físicas regulares”, descreve o médico em um artigo.

O PSA é uma substância produzida na próstata e pode ser detectada em um exame de sangue. Quando a enzima do PSA mostra um aumento acima de 25% do esperado, pode ser um indicativo de câncer e precisa ser feito mais exames. É importante fazer o exame do PSA a partir dos 40 anos.

“No Brasil, cerca de 60% dos casos de câncer na próstata são em pacientes da raça negra. São casos mais graves porque chegam na rede de forma tardia. Uma campanha publicitária com um protagonista negro frisando que nós negros apresentamos os casos mais graves seria muito importante”, avalia o médico urologista Osei Akuamoa Jr, especialista em cirurgia robótica.

Racismo e câncer

O presidente da Instituto AfroAmparo e Saúde (IAAS), Paulo Romualdo, identifica o racismo estrutural como uma das causas que promovem o alto índice de mortes de homens negros vítimas de câncer na próstata.

“Os homens pretos têm dificuldade de acesso aos serviços públicos e privados de saúde. As estruturas são burocráticas, caras e ineficientes. Temos que combater o racismo estrutural e, em paralelo, fortalecer empresas que colocam a saúde física e emocional dos negros como prioridade”, pontua Romualdo.

O instituto presidido pelo médico possui um grupo de masculinidades que discute a autonomia da população negra e os desafios que o homem negro enfrenta na sociedade. O tratamento dos pacientes de câncer na rede pública de saúde encontra barreiras, com a distribuição dos equipamentos de radiologia: 55% estão no sudeste, 19% no Sul e 13% no nordeste. As regiões norte e centro-oeste têm menos de 10% dos equipamentos.

Para homens negros, principalmente os mais velhos, o autocuidado e a preocupação não são questões tratadas no cotidiano. “É importante que os homens negros mais jovens com acesso à informação e disputando narrativas em favor da negritude olhem para dentro de suas famílias e ofereçam apoio aos homens mais velhos de forma afetiva”, considera Roger Cipó, fotógrafo e produtor de conteúdo sobre masculinidades.

Tabus e autocuidado

O psicólogo Everton Mendes lembra que existem tabus que fazem os homens negros “relaxarem” com a própria saúde. “É o que chamamos de masculinismo, que é uma masculinidade negra que por mais que seja carregada por estereótipos, traz um certo prestígio para o homem negro, que é ‘ser o negrão’. E o negrão, principalmente os homens negros mais velhos, tem um grande receio de fazer o exame preventivo, aquele do toque. Ele acha que isso vai afetar sua virilidade”, pondera o psicólogo.

Mendes reforça que além de existir outros tipos de exame para detectar o câncer, os homens negros fazem uma espécie de sabotagem com a própria saúde. “É o estereótipo de força e a crença social de que homens negros não adoecem e isso também é um impeditivo para cuidados de saúde rotineiro”, explica.

Em 2017, 5.391 brasileiros perderam a vida por conta de câncer na próstata. A estimativa do INCA é de surgimento de 13.610 novos casos deste tipo de câncer só nas capitais até o final de 2020. A cidade de São Paulo, segundo o instituto, deve registrar 3.060 novos casos até o fim do ano.

Fonte: Yahoo Finanças 

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