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Homens Lendo Instruções Antes De Aplicar Pesticidas

Uso de agrotóxicos no país e os impactos na sua saúde

Por Isabelle Novelli , nutricionista oncológica | Membro do Grupo de Trabalho sobre Agrotóxicos do Movimento TJCC

Nos últimos 5 anos tivemos o maior número de liberação de pesticidas já vistos antes no Brasil, movimento esse que vai na contra-mão de novas políticas públicas de países desenvolvidos, adicionando novas fórmulas de produtos como o glifosato, considerado pela International Agency for Cancer Research (IARC) como um produto potencialmente carcinogênico para humanos e com extensa literatura corroborando este fato. A nova regulação aprovada aumenta a velocidade de aprovação de um processo já rápido para novos produtos e centraliza o poder de decisão para o Ministério da Agricultura.

Atualmente no Brasil para um produto ser aprovado ele não pode ter evidência de possuir um potencial mutagênico, carcinogênico ou teratogênico e quem deve apresentar esses dados é a própria indústria que solicitou a aprovação. Um estudo feito em 2019 analisou 247 formulários para aprovação de produtos pesticidas no Brasil(1). Todos os estudos anexados foram realizados por laboratórios privados que não mostraram qualquer risco à saúde ou ao meio ambiente relacionado ao produto. Entretanto, ao analisar mais de 500 estudos sobre os produtos em questão, 84% dos resultados presentes na literatura produzidos por entidades públicas e independentes apresentavam uma associação positiva em relação ao potencial mutagênico, carcinogênico ou teratogênico. De acordo com as indústrias produtoras de pesticidas não se deve confiar em estudos científicos. Com isso, observamos uma já frágil legislação e processo de aprovação. O Projeto de Lei 6299/2002, conhecido como Pacote do Veneno vai na contra-mão do mundo e do que a população precisa, um maior rigor para a aprovação e uso desses produtos.

Atualmente conseguimos relacionar efeitos deletérios a saúde da população com a exposição a curto e longo prazo desses produtos. Não podemos esquecer de um processo chamado de biomaginificação, onde há um acúmulo deste produto com o aumento da exposição do nível trófico. Ou seja, dentro da cadeia alimentar há um acúmulo de produto – simplificando seria: há um aumento de acúmulo de agrotóxico na seguinte cadeia: água, plâncton, peixes herbívaros, peixes carnívoros, pato)(2). Os agrotóxicos não estão presentes somente em frutas e vegetais, mas também estão presentes em grande quantidade em animais que consumimos e na água. Aumentar a quantidade de produtos aprovados necessariamente significa aumentar o nosso nível de exposição a eles.

Segundo o último relatório do PARA – Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos elaborado pela Anvisa, mais da metade dos alimentos analisados possuem resíduo de agrotóxico acima do permitido pela legislação atual.

O conceito de segurança alimentar também abrange a qualidade nutricional do nosso alimento e a sustentabilidade da cadeia de produção, que está sendo largamente comprometida com a fragilização do processo de liberação de novos agrotóxicos.

Já temos diversos estudos feitos com a população brasileira apresentando o risco de desenvolvimento de várias doenças relacionadas com a exposição a pesticidas, como câncer de mama, câncer colorretal e cânceres hematológicos. Além disso, doença de Parkinson, doenças mentais e tentativas de suicídio também são relacionadas a maior exposição a agrotóxicos em populações brasileiras.

Portanto, o Grupo de Trabalho sobre Agrotóxicos do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer atua para aprovação de outro Projeto de Lei 6670/2016, PNARA –  Política Nacional de Redução de Agrotóxicos, que propõe a redução gradual do uso de agrotóxicos e estimula a transição orgânica e agroecológica. Manter a soberania nacional da nossa alimentação também diz respeito a população ter acesso a um alimento saudável e sustentável.

 

 

(1)         Rocha e Grisolia Dev World Bioeth 2019

(2)         Stoppelli e Magalhães  Ciênc. saúde coletiva 10 (suppl) • Dez 2005

 

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