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Panorama dos desafios e soluções no combate ao câncer de mama nas regiões Norte e Nordeste

Especialistas falaram sobre a necessidade de inovação, educação em saúde e de ações concretas para enfrentar os desafios específicos das regiões Norte e Nordeste no combate ao câncer de mama

As discussões no painel “Panorama do Câncer de Mama nas Regiões Norte e Nordeste”, que aconteceu no 2º dia do 6º Fórum Norte e Nordeste, trouxeram à tona as preocupações e experiências sobre a realidade do câncer de mama nessas regiões. 

Priscila Andrade, apresentadora de rádio e pós-graduada em Mídias Digitais, moderou a roda de conversa e destacou a necessidade de mudança na mentalidade e na forma que as pessoas agem para melhorar a realidade das mulheres brasileiras diagnosticadas com câncer de mama.

 “A gente vai sair daqui com outro pensamento, com outra mentalidade e com certeza, todo mundo aqui vai ser formiguinha para mudarmos essa realidade. Até quando, nós jornalistas, vamos estar nas redações dos jornais e vamos receber ligações de pacientes desesperados e querendo denunciar a falta de medicamentos?”

Hortência Batista, paciente oncológica e técnica de enfermagem, compartilhou sua experiência pessoal de luta contra o câncer, enfatizando a diferença da velocidade do serviço privado e público e também expondo as dificuldades enfrentadas devido à metástase e atrasos nos exames.

“Sou mãe solteira, trabalhadora, tudo era eu e sempre fui eu e minhas duas filhas. Em menos de um mês e 20 dias eu estava mastectomizada, mas eu só consegui fazer tudo isso por conta do meu conhecimento em enfermagem e por ter condições de fazer os procedimentos no particular”, contou.

Ela ainda relatou sobre o restante da sua trajetória, que incluiu uma metástase na coluna e outra no osso esterno. 

 “Eu vejo uma teoria muito bonita, mas eu sou a paciente, eu sou a prática, e nas minhas ida e vindas do pronto socorro, o médico me disse que eu ia parar de andar e eu disse ‘até lá eu vou continuar andando, então’. Eu fui curada da metástase da coluna, mas, em compensação, o câncer estava no esterno. Precisei fazer uma ressonância e só seis meses depois eu consegui fazer esse exame.”

Nina Melo, Coordenadora de Pesquisa da Abrale e Abrasta e líder do GT de Dados do Movimento TJCC, apresentou uma atualização do Panorama do Câncer de Mama, um estudo realizado pelo Observatório de Oncologia em parceria com o Instituto Avon.

Nina salientou os dados alarmantes sobre o câncer de mama, apontando a baixa cobertura de mamografia e a alta taxa de diagnósticos em estágio avançado, especialmente no Norte e Nordeste: “Precisamos lembrar que os dados são pessoas e os dados são alarmantes. A gente tem que entender que estamos falando de gente e da gente, porque poderia ser nós. O câncer de mama é o mais frequente nas mulheres brasileiras e também a principal causa de morte em mulheres.”

A pesquisadora também expôs que a taxa de cobertura de mamografia no Brasil está abaixo do recomendado.

“No Brasil, a taxa de cobertura foi de 20%, sendo que o recomendado é 70%, e tem caído desde 2015. No Pará, em 2022, a taxa era de 10% e, em Sergipe, era de 24%”, alertou.

Sheyla Galba, paciente oncológica e fundadora do Movimento Mulheres de Peito, relatou a sua dificuldade de acessar o tratamento de radioterapia no SUS e a luta do grupo Mulheres de Peito para melhorar as condições de tratamento. 

“O meu médico disse ‘seu câncer pode voltar em outros órgãos e, por isso, o tratamento não pode ser interrompido, mas a máquina de radioterapia aqui quebra com muita frequência’. Em agosto de 2015, eu estava para fazer a minha primeira radioterapia, um anjo me ligou para avisar que a máquina estava quebrada e ele disse para eu fazer algo, porque isso acontecia muito e era comum os pacientes morrerem porque não conseguiam fazer o tratamento. A partir daquele momento, nós, do Mulheres de Peito, lutamos diariamente e nessa luta, nós conseguimos mudanças.”

Paula Saab, mastologista e especialista em Cirurgia Oncoplástica e Reparadora das Mamas, criticou a insuficiência da mamografia para o diagnóstico precoce e destacou a necessidade de oferecer biópsias rápidas e um melhor acolhimento às pacientes.

“90% das mulheres chegam porque sentiram um caroço, não pela mamografia. Eu não estou dizendo que a mamografia não é importante, estou dizendo que ela é insuficiente para o diagnóstico precoce. Mamografia não dá diagnóstico de câncer, ela levanta suspeita. Adianta eu ter mamografia se eu não conseguir oferecer uma biópsia rápida? Não. Não seria melhor a gente ofertar uma biópsia rápida para essa mulher que sentiu o caroço em casa? Se o que nós estamos fazendo não está trazendo resultado, nós precisamos mudar.”

Mirna Hallay, Gerente Geral e de Projetos na ONG Américas Amigas, falou sobre a atuação da ONG Américas Amigas na facilitação do acesso ao diagnóstico às populações vulneráveis. Ela destacou a necessidade de se adaptar às dificuldades de cada local e oferecer soluções práticas, como as carretas de mamografia.

 “11 mamógrafos foram doados aqui na região norte e nordeste, mas quando a gente entendeu que esse aparelho doado não vai receber manutenção, que a técnica não vai ser treinada etc, nós entendemos que não adiantava doar o mamógrafo, era melhor nós mesmas começarmos a oferecer e isso tem sido feito por meio das carretas e também doando exames em laboratórios de todo o Brasil. E nós só conseguimos fazer isso por conta das nossas organizações parceiras, que nos ajudam a entender cada realidade e oferecer uma solução”

 

Fonte: Comunicação TJCC

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