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Falta de Acesso ao Transplante de Medula Óssea: A Realidade de Pacientes nas Regiões Norte e Nordeste

As falas dos especialistas e de um ex-paciente evidenciam as desigualdades no acesso a esse tratamento fundamental

O painel “Cenário do TMO no Norte e Nordeste”, do 6º Fórum Norte e Nordeste, revelou um panorama desafiador para pacientes com câncer que necessitam de transplante de medula óssea (TMO) nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. O debate revelou a urgência de alguns dos principais desafios a serem superados para ampliar o acesso a esse procedimento, especialmente no que tange à falta de leitos, à concentração de centros em algumas regiões e à dificuldade de acesso ao transplante autólogo.

André Torres, ex-paciente de leucemia aguda, fundador do Caçadores de Medula e membro do Comitê de Pacientes Abrale, compartilhou sua experiência pessoal, destacando as dificuldades enfrentadas ao buscar um TMO em Fortaleza. Sua história demonstra como a falta de infraestrutura e a longa espera por um leito podem comprometer a eficácia do tratamento e impactar a qualidade de vida.

“Eu iniciei meu tratamento em Fortaleza, quando eu estava pronto para o transplante – em remissão e com o doador encontrado – eu descobri que não tinha nenhum hospital do plano que fizesse meu transplante em Fortaleza. Tinha um hospital do SUS, mas a fila estava enorme, eu não quis esperar e decidi mudar para São Paulo, só que essa não foi uma mudança simples. Nesse meio tempo, eu precisei fazer uma nova quimioterapia – que talvez não seria necessária se não fosse pela demora – e, por conta dela, eu tive um problema neurológico e tive que andar de cadeira de rodas, depois andador e, agora, dependo da bengala”, contou.

Fernando Barroso, médico e presidente da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, apresentou dados que comprovam e demonstram a desigualdade regional no acesso ao TMO. Segundo ele, a falta de leitos no SUS e a concentração de centros privados em algumas regiões geram longas filas de espera e impedem que muitos pacientes tenham acesso ao tratamento.

“O Brasil vive um cenário em que temos cerca de 130 estabelecimentos credenciados para o transplante e cerca de 275 equipes. Porém, há uma concentração maior desses centros em São Paulo e uma desassistência em outras regiões, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Um outro ponto fundamental que se fala muito pouco é sobre a criopreservação para o transplante autólogo: no Nordeste e no Nordeste, nós só temos dois centros que realizam esse processo.”

Juliana Brunow, médica hematologista e responsável técnica do Serviço de Onco-hematologia do Centro de Oncologia Dr. Osvaldo Leite – HUSE, destacou a falta de infraestrutura para realizar o transplante autólogo, a dificuldade de referenciar pacientes para outros estados.

“A gente precisa referenciar o paciente para outro estado, principalmente do sudeste. Isso gera não só um custo financeiro, mas também um custo emocional. Eu não acredito que nós estamos no cenário ideal, nós temos muito o que construir ainda para chegar próximo ao ideal. Não é uma construção fácil, envolve os pacientes, familiares e pessoas que abraçam essa causa para dar a mão para nós médicos para lutar e depende também de vontade política. É muito importante esse movimento, para que todos entendam que essa é uma luta que vale a pena ser brigada.”

Danillo Silva, Onco-hematologista no Hospital São Lucas. Especialista em TMO pelo Hospital Israelita Albert Einstein, enfatizou a complexidade do TMO e a insuficiência de leitos no SUS.

 “A demanda é muito maior que a oferta de leitos, porque o TMO não é uma cirurgia, é muito mais complexo e existe toda uma preparação antes e depois vem uma fase extremamente complexa. Então, 160 leitos para o SUS é pouco.”

Ele também mencionou os desafios logísticos e emocionais enfrentados pelos pacientes que precisam se deslocar para São Paulo para realizar o transplante.

“É um desafio logístico, porque a gente está falando de transporte, hospedagem, alimentação e tem também o desafio emocional de ir para um lugar onde o paciente não conhece ninguém e fica longe da família. O paciente não vai, fica um ou dois dias e volta, o paciente vai para São Paulo e fica, mais ou menos, seis meses lá.”

Fonte: Comunicação TJCC

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